sábado, 29 de agosto de 2009

Uma noite na Universal

Uma das 4500 filiais da Igreja Universal do Reino de Deus fica no bairro de botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Quem passa em frente quase não percebe a igreja. Diferentemente de outras unidades, a de botafogo tem um frontão discreto. Sim, a fachada é toda em mármore com letras góticas em prateado informando que ali é uma Igreja Universal do Reino de Deus e que Jesus Cristo é o Senhor, mas fica só nisso. Não há vitrais, não tem a logomarca em vermelho (um coração com uma pomba branca no centro) e nem ornamentos extravagantes.

Para falar da Igreja Universal, o colunista entendeu que deveria conhecê-la mais de perto. Assim, decidiu participar de um culto, ou de uma reunião, como eles gostam de chamar.

Para saber os horários, passei na Universal mais próxima da minha casa e peguei uns panfletinhos de divulgação. Minha desconfiança só fez aumentar. De gosto e visual bem duvidosos, os panfletinhos chamavam para sessões de descarrego. “O seu problema é sentimental? Nunca foi feliz no amor?”, dizia um deles. “Você sente que tem algo amarrando a sua vida?”, dizia o outro. O panfletinho também informava que havia sessões diariamente às 7:00, 10:00, 12:00, 15:00 e 19 horas. Haja descarrego!


Cheguei com 40 minutos de antecedência na sessão das 19 horas para poder observar de longe o movimento e me preparar psicologicamente para a empreitada. Passei vagarosamente em frente à igreja para pegar um exemplar da Folha Universal, fartamente distribuída na calçada, e segui para o boteco mais próximo para um breve pit-stop.

A Folha Universal é o pioneiro braço de comunicação da instituição. A que recebi era uma edição especial com uma única manchete garrafal: SUJEIRA.

Dizia:

“Nesta semana, o Brasil assistiu, perplexo, a um ataque histórico de grupos de comunicação à Igreja Universal. Quais são os interesses por trás da notícia?



A Folha Universal, com suas 24 páginas em formato tablóide, todas coloridas, imprimia em nove delas a versão da IURD para as denúncias apresentadas pelo Ministério Público de São Paulo, mas que a Igreja Universal insistia em atribuir à TV Globo. A Folha Universal usava argumentos como “denúncia vazia”, “sucessão de equívocos”, “comunicação que incomoda”, “uma história de injustiças”, “palavras desfocadas”...

Edir Macedo sabe a força das palavras e das imagens. Não é a toa que criou logo cedo sua estrutura de comunicação, que alcançaria, anos depois, o calibre de super-potência com a aquisição da Rede Record de Televisão, além de rádios, editoras, gráficas etc.

A Folha Universal passa a ser editada a partir de 1992 e hoje conta com uma tiragem semanal de 2,5 milhões de exemplares (informação impressa no próprio jornal e auditada por uma BDO Trevisan Auditores Independentes), mais que o dobro da maior publicação nacional, a Veja, hoje em seu 42º ano de existência com 1.085.852 exemplares semanais.

O jornal, bem diagramado e que trata sobre diversos assuntos do cotidiano, dedicando apenas uma parte para a propaganda da Universal (seguindo o mesmo modelo da TV Record), tem essencialmente uma linha de defesa: considera o fato notícia velha requentada (visto que nos anos 90 Edir Macedo chegou a ser preso pela mesma acusação de crimes financeiros) para tentar ofuscar o crescimento de audiência da TV Record e o lançamento de um megaportal de jornalismo, o R7. Mas no fundo o que o texto tenta vender é a idéia de que a Universal está sob uma perseguição religiosa, pois só quem o lê são os próprios fiéis.


O verbo e a verba

Às 18h45 eu estava novamente diante da escadaria da igreja. Poucos degraus levavam até um imenso salão. Uma dimensão difícil de mensurar da rua: 60 fileiras com 13 cadeiras de cada lado. Mais de 1500 lugares sentados, algo próximo da capacidade da Igreja da Candelária, uma das maiores igrejas católicas do Brasil situada no centro do Rio. Para um templo de bairro é uma capacidade bem pretensiosa.

O culto é animado, começa com música e palmas. Eu ainda descobriria que seria agitado demais, mas isso só no final. Por enquanto estávamos todos de pé cantando uma música que era o começo de um intrincado e sofisticado processo de persuasão, e que só terminaria uma hora e meia depois.


Neste lugar de adoração

vim te buscar de todo coração

a minha vida eu quero ofertar

o meu melhor eu quero consagrar.


Cantou o pastor de não mais que 25 anos. Um sujeito afinado, alinhado, acompanhado no fundo por um tecladinho melodioso. Na primeira estrofe da canção a palavra oferta já havia aparecido. E ela ainda seria repetida inúmeras vezes até o final da noite.


Pai eu abro a porta do meu coração

Venha derramar da tua unção

E fazer de mim o que quiser

Pai, eu quero ser o filho que te abraça

e levar ao mundo a tua palavra

te servir enquanto eu viver.


A esta altura já está tudo dominado. Somando o clima, o cenário e a música às almas já sofridas e vulneráveis em busca de uma palavra amiga, a dialética da Universal (e de quase todas, é preciso frisar e não esquecer) é infalível.

Em seguida o pastor mudou a entonação, deixando de cantar e passando para um tom mais professoral, um tom de sermão:


Aprendemos a viver guiado pelo senhor.

E não agir diante do que se encontra aos nossos olhos, e não pelas emoções.

Mas a ti pela fé que há dentro de nós.

Então nós queremos te pedir, meu pai, dá vitória ao teu povo diante de todas as perseguições, dá sabedoria para que seus filhos possam sair ilesos dessa guerra.

Guerra espiritual em que o mal tem usado familiares, amigos, vizinhos, que tem ligado pra essa pessoa tentando contaminar.

Dá vitória meu pai!


As palavras do pastor, para quem assistisse de fora como eu, pareciam buscar uma base sagrada para a defesa contra as acusações dos jornais. Usava uma técnica que, sutil e subliminarmente, desarmava as mentes para serem convencidas. Ao dizer que as palavras eram de Deus, e não dele, o pastor criava um distanciamento crítico. Uma técnica parecida com o terceiro-pessoismo muito utilizada por políticos e jogadores de futebol. Você já deve ter ouvido o Pelé falando do Pelé como se fosse outra pessoa. Pois é...

Mas os métodos de persuasão não param por ai. Outro muito usado em cultos evangélicos é a catarse verbal. Nele o pastor passa a falar em um ritmo cada vez mais acelerado e em um volume cada vez mais alto, repetindo frases, gritando amém, trocando palavras de lugar e mantendo sempre a pressão em um ideia central. Um pastor habilidoso é capaz de levar toda uma platéia ao transe. Os decibéis ajudam a colocar o ouvinte em estado uníssono com o que é dito, o som que sai das caixas envolve todo o seu corpo.

E é aí que começa a participação da platéia com o que é chamado de Manifestação, onde cada um pode repetir uma palavra dita pelo pastor, dizer amém ou proferir palavras que lhe vêm a cabeça, inclusive em línguas desconhecidas, o que para os fiéis da Universal é um dom dos batizados.

É assustador perceber a costura de uma ideologia política, de palavras de ordem e comando dentro do discurso sagrado. Os verbos, pinçados das frases, parecem denunciar o esquema: ofertar, derramar, fazer de mim o que quiser, servir, guiar, orientar, perseguir, guerrear.

Então está lá a palavra do dia: foi iniciada uma guerra religiosa contra a Igreja Universal. Tenta-se assim entortar a acusação, conseguindo sair de uma posição de réu para, no fim, estar confortavelmente sentado na cadeira da vítima. No final o que se tenta é desqualificar a acusação criminal e transformar o caso em uma situação de intolerância religiosa.


O culto segue:

Faz parte da pessoa de Deus ganhar, perder, estar fraco, ser repreendido, ser injustiçado, tudo isso faz parte.

E assim, como sempre se fez, o discurso do pastor parte para a outra técnica, essa comum em outras igrejas: o amolecimento do espírito revolucionário e questionador do ser humano. Amortecendo o desejo de mudar ao dizer que você vai sofrer, será injustiçado, mas isso é assim mesmo, isso faz parte... Porque não diz o contrário, porque não estimula as pessoas a mudarem, porque não diz que não, não faz parte sofrer, que não faz parte ser humilhado? Não dizem pois este sentimento é libertador. Uma vez liberto, o fiel não precisa mais da igreja.

Mas existe uma característica fundamental da Igreja Universal que a diferencia de todas as outras, principalmente das católicas: a Teologia da Prosperidade.

Ao contrário do Vaticano, que sempre defendeu o sofrimento na Terra e o paraíso no céu, em volume inversamente proporcional, a Universal resolveu inverter a ordem e dar preço ao paraíso na Terra. Combinou conceitos de uma forma nunca antes feita, associou, dentro da religião, felicidade à prosperidade financeira. E prosperidade diretamente proporcional ao dízimo oferecido. Fazem isso sem o menor pudor, sem o menor constrangimento.

No texto Palavras Desfocadas, da Folha Universal, Edir Macedo comenta uma antiga gravação de vídeo onde ele aparece falando em “dá ou desce”. O jornal apresenta uma passagem do livro “O Bispo, a história de Edir Macedo”, que tem na capa a famosa foto de Macedo lendo uma bíblia sentado em um banquinho por trás das grades (foto no blog), quando foi preso em 1995. No trecho da biografia Macedo diz o seguinte: “A expressão que usei não tem nada a ver com aquela piada suja. É como eu costumo dizer, toma lá, dá cá. Essa era a expressão que eu deveria ter usado naquele momento, mas, na hora, não usei. Não me arrependo não. É nossa mensagem de fé(...)”.

Então a Universal associou prosperidade financeira ao dízimo e tudo isso a um processo de fidelização à igreja. O discurso diz o seguinte, se você ainda não prosperou, é porque não está dizimando como deveria, não está dando realmente o que poderia dar. Acha surreal? Acha que estou exagerando? Então sigamos no culto.

Depois da parte cantada e falada, o pastor desceu para a platéia, mudou de tom novamente e mandou chamar duas pessoas. Um casal se aproximou para que todos vissem. Aparentavam uma certa timidez, ou uma certa constrição calculada.

O casal estava ali para dar seu Testemunho, outra parte fundamental dos cultos evangélicos. Os testemunhos são sempre dos casos de sucesso, daquelas pessoas que enriqueceram depois que passaram a dizimar (ou seja, a Universal juntou conceitos da religiosidade com as práticas do marketing direto, juntou Deus com a Amway!!!).

O testemunho daquela noite seria de um cidadão chamado Ronie Rap. O nome vem dos bailes funk, onde Ronie era um famoso DJ da Furacão 2000. A história de Ronie foi então contada. Casamento em frangalhos, dívidas financeiras e duas tentativas de suicídio na Ponte Rio-Niterói. Isso mesmo caro leitor, duas tentativas na ponte Rio-Niterói!!! Quem contava era sua esposa, ouvida por um Ronie cabisbaixo e com mãos entrelaçadas. O pastor pontuava: “Funk é sinônimo de que? Prostituição! Drogas! Maus elementos!”. O pastor ainda teve a cara de pau de dizer: “não estou generalizando, mas é sinônimo disso!”. Como assim cara pálida? (Alô DJ Marlboro!! Alô Fernanda Abreu!! Alô Buchecha!!).

O testemunho termina com uma listagem do sucesso financeiro de Ronie Rap, hoje um reconhecido DJ Gospel, que antes “morava de aluguel”, havia vendido o carro, sem dinheiro até para pagar o condomínio. Falidos, tinham ido morar em Macaé, cidade no norte do estado do Rio. Mas hoje, inflama-se o pastor, moram em “uma casa bacana”. O pastor ainda se entrega. “Eu sei por que eu fui vizinho dele!”.

“E você devolvia o dízimo”, perguntou o pastor? “Sim, sempre, foi a primeira coisa que aprendi na Universal”, respondeu Ronie.

Devolver o dízimo é outra prática incentivada na Universal. Significa basicamente uma retribuição em dinheiro após a graça obtida. Não é o dízimo do dia-a-dia, mas sim um dízimo especial, vindo depois de acumulada a riqueza.

O pastor, quase debochado, arremata o testemunho de Ronie Rap com uma perguntinha: “e a casa de praia, tá bacana?!”. “Tá lá, com três andares na beira da praia!”, responde Ronie sem conseguir esconder o orgulho. “E não tem só casa de praia não gente. Comprou outra em Rio das Ostras. Ou seja, está abençoado! Mas me diz, vocês vieram de ônibus?”, pergunta ironicamente o pastor já sabendo a resposta. “Vim de carro. Depois daquele carro que eu vendi, hoje eu tenho três”, responde laconicamente.

“Bem forte pra Jesus!”, pede o pastor. No que é seguido por um avassalador aplauso. “Essa é nossa resposta para quem não acredita!”, sentencia o pastor. E logo depois vem uma longa defesa sobre o dízimo. “Se um não der 100, outro dará 1000, se um não der 1000, o outro dará 10 mil”, profetiza o pastor em uma lógica bem particular. “No início deste mês uma pessoa dentre vocês aí devolveu um dízimo de R$57 mil”, diz para quem quiser acreditar.


E, é claro, depois disso não poderia ser outra coisa a não ser a distribuição dos envelopes brancos com a palavra dízimo carimbada. O pastor se mostra confiante e destemido: “Nós não vamos nos calar por que estamos sendo perseguidos. São notícias requentadas. Comida estragada cheirando à azedo. Tem uns que comem dessa comida podre que a Rede Globo tá dando e depois passam mal, espiritualmente falando, e tem uma indigestão violenta e vão parar no CTI pra depois nós termos que resgatá-las”. E segue em uma sugestão para que as pessoas parem de assistir a TV Globo: “Gostaria que você olhasse pra essa comida podre... ou melhor, gostaria que você nem olhasse pra essa comida podre. Quando as pessoas vêm falar comigo perguntando se eu vi, eu digo que não vi, não quero ver, não vou ter raiva de quem vê, mas não quero ver! Porque? ... (pausa dramática) ... deixa pra lá”.

A sacola vermelha é colocada na frente do altar, a musiquinha volta e a fila se forma. O dinheiro segue nos envelopes, mas vi gente com nota de 50 reais na mão.

Existem outras formas de arrecadação. O pastor interrompe abruptamente a música e manda buscar livros do estoque. É a já citada biografia de Edir Macedo. São para vender para os fiéis a R$10,00 cada. O pastor tem, assim como no comércio, a sua cota a cumprir. Ele quer vender 100 livros nesta noite. Mas quem comprar não vai levar. O pastor explica que eles serão doados para 100 casais que vão se reunir em uma favela carioca. O pastor ainda incentiva as pessoas que digam quantos livros estão “doando”. Assim, estimula a vaidade daquele que podem dar mais.

Depois do dízimo finalmente sentamos novamente. Sim, estávamos de pé todo este tempo. É hora de ouvir um trecho da bíblia. Veja que o que narrei até agora se parece muito com a liturgia católica, que é de onde vem, essencialmente, os evangélicos, que na verdade são protestantes. Tudo começa lá em Calvino, Lutero, entre outros (essa parte você pesquisa sozinho). O trecho que vamos ouvir hoje é do livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 7, versículo 54. Esse livro, quinto do Novo Testamento, fala sobre? Adivinhem? Isso mesmo, perseguições aos cristãos. No caso fala de um Estevão que, mesmo sendo apedrejado, permanece fiel ao seu Deus.

Facada final em qualquer consciência de algum fiel que porventura estivesse abalada com as notícias que vem lendo no jornal. O pastor ainda pede a participação da platéia ao ler um trecho “E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se naquele dia uma grande... Grande o quê gente?! grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém”, repetem todos.

A leitura da Bíblia, um romance escrito em metáforas e que permite mil e uma interpretações ao gosto de quem a usa, seguiu por um bom tempo, fazendo o pastor a sua interpretação dos Atos dos Apóstolos para dizer que aquilo tudo não era um processo do Ministério Público sobre lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e evasão de divisas, mas sim uma perseguição religiosa contra a Universal. Prevista na Bíblia!!!

O culto seguiria oscilando momentos de cantoria, catarse, mais uma rodada de dízimos sob a justificativa de vender os jornais (distribuídos gratuitamente na rua) para ajudar nos custos da gráfica. O pastor pede R$1,00 por jornal, mas incentiva quem quiser mostrar sua fé doando valor maior. A catarse final ainda conta com a diminuição das luzes do salão. É neste momento que algumas pessoas batizadas começam a falar em línguas exóticas, algo próximo de um hebraico ou uma dessas línguas antigas. Os decibéis já haviam superado em muito o limite permitido em lei...

Por fim o pastor convoca a todos para que tragam alguém novo no domingo, chamado de Domingo dos Vizinhos. Todos são quase que desafiados a trazer um novo fiel. Assim cresce vertiginosamente a Igreja Universal.


E é isso que precisamos entender. Mesmo com tantas denúncias, mesmo com tudo o que se falou sobre esta igreja, mesmo assim a Universal segue crescendo. O pastor nem precisava se esforçar tanto em encontrar uma justificativa bíblica para as denúncias do MP. Nada vai acontecer com a Universal, nada vai acontecer com Edir Macedo. Ele sabe que está em uma esfera imune. Edir Macedo tem, aliás e curiosamente, um passaporte diplomático, garantido pelo governo brasileiro aos líderes religiosos. Você sabia?...

Acima de tudo o fundador da Universal percebeu que existia um mercado a ser explorado. Um mercado totalmente fora da alçada de qualquer instância governamental. Macedo viu em sua frente um empreendimento livre de impostos, de censura, de regulamentação, de registro. A prática religiosa estava, e está, inserida dentro de um buraco negro institucional. Não foi o primeiro, nem será o último, mas Macedo sofisticou o empreendimento de uma forma inédita.

Edir Macedo está protegido pela Constituição Brasileira. Diz o artigo 5º, inciso VI: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias". E vai além. O artigo 19, inciso I ainda amplia: “é vedado ao Estado estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança(...)”. Leia-se embaraçar como o ato de criar complicações, obstruções ou vexames. Ou seja, as igrejas estão protegidas por barreiras não só etéreas como também constitucionais. São intocáveis!

A Universal percebeu também que além do seu braço de comunicação precisava ter o seu braço político. Assim, passou a preparar pastores para assumir cargos públicos em todos os níveis, não só financiando suas campanhas como usando de seus templos para comícios e seus fiéis como eleitores. O Rio de Janeiro é hoje um estado evangélico. O ex-governador Anthony Garotinho percebeu isso. Apesar de não ser da Universal (Garotinho freqüenta a Igreja Batista Betânia) usou a comunidade evangélica para ganhar a eleição e eleger sua esposa em seguida, e depois sua filha.

Da Universal é nosso senador. Mesmo sem nenhuma carreira política anterior, mesmo sem nenhuma referência ou base eleitoral, Marcelo Crivella se elegeu senador pelo Rio de Janeiro. Veja bem, não estamos falando de um cargo de vereador, deputado estadual ou mesmo federal, elegemos um pastor da Igreja Universal como Senador pelo estado do Rio de Janeiro!!! Crivella, assim como seu tio Edir Macedo, é um homem cheio de processos e histórias mal contadas. Deve ser perseguição do Ministério Público...

A coluna já vai longe demais. Perdeu totalmente a noção da paciência do leitor que, se chegou até aqui, só pode receber o meu muito obrigado pela tolerância.

Não tenho nada contra o dízimo, se captado honestamente, seria usado para a construção de igrejas, projetos sociais, etc, mas o dízimo virou um grande negócio. Se você quer continuar doando, opção sua, mas visto o caráter comercial que o dízimo ganhou, é preciso retirá-lo da esfera da isenção tributária e passar a arrecadar impostos para o povo brasileiro, assim como penso que da mesma forma as doações para o projeto Criança Esperança também devem ser taxadas. A TV Globo diz que não ganha nada com isso e que todo o arrecadado vai direto para o UNESCO e depois aos projetos. Mentira! É claro que a TV Globo ganha, e ganha muito! Ganha em imagem, em valor agregado. O Criança Esperança é sim uma ação de marketing social

Resta acompanhar o caso e continuar tentando entender o que atrai as pessoas aos cultos da Universal (e tantas outras). Eu também quero ter muito dinheiro no bolso, mas não acredito que um Deus meça no montante de uma doação a fé de quem o ama, ou mesmo um Deus que seja capaz de retribuir mais a este do que àquele por conta dos zeros à direita do cifrão.



KF


* aos incrédulos, tanto do conteúdo como da memória do colunista, informamos que todo o culto teve seu áudio registrado em um gravador de bolso.



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