sábado, 29 de junho de 2013

Na semana passada alguns leram o relato que publiquei aqui sobre minha participação na passeata de quinta-feira, 20 de junho.

Nele eu comentava que, além de estar ali como cidadão, também o estava por profissão, registrando o evento em vídeo.

O material a seguir é o resultado deste dia.

Um agradecimento especial a Wilson Simonal pela inspiração.

KF

sempre melhor assistir em tela cheia...
 

 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

ESTE TEXTO ESTÁ SENDO PUBLICADO NO CALOR DA HORA.

SEM CORREÇÕES.

Conto com a compreensão e paciência do leitor.


Para quem acompanhou apenas pela TV ou pelas redes sociais, aqui vão alguns esclarecimentos e curiosidades:

Acabei indo parar na linha de frente, não por vontade própria mas pelo acaso.

Quando se está no meio de um grupo muito grande, não se tem a noção de onde se está, nem de quantas pessoas estâo ali com você.

Caminhava rápido pois estava coletando imagens e queria me aproximar logo da prefeitura.

Lá de trás não se tinha noção do que acontecia na linha de frente.

Subitamente houve um grande recuo. Como de costume, e como precaução, nâo corri e me mantive parado. Foi quando vi onde estava. Cara a cara com o Choque, que ainda distante, lançava as primeiras de efeito moral e uma rajada de bombas de gás lacrimogeneo.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo.

Um grupo imensa, incapaz de se locomover rapidamente, imprensado em um trecho da Presidente Vargas que não tinha escapes laterias (altura do prédio dos Correios).

Vamos agora tentar entender a lógica da Tropa de Choque neste episódio.

Sua função ali era, como me relatou um capitão com quem conversei em meu caminho de volta para casa, dispersar a multidão.

COMO ASSIM?

Você dispersa um grupo de 100, 200, quiçá 300. Mas é impossível " dispersar 300 mil! 1 milhão!

De quem foi essa ideia?

Do governador Sérgio Cabral, que deve ser responsabilizado pelo que ocorreu hoje.
Vamos agora falar sobre vândalos.

De perto, a coisa é um pouco diferente do que você vê na TV.

O adjetivo ganhou força na última semana e já é padrão no jornalismo e em todos os papos de boteco.

Quem são? Querem apenas a baderna? São saqueadores? Oportunistas?

Lembremos de manifestações passadas.

Nunca houve esse nível de confronto. Sempre tivemos marcarados, sempre tivemos algum dano colateral. 

É preciso retornar aos primeiros momentos desse momento, particulamente em São Paulo, onde os manifestantes, ainda em grupo menos, foram violentamente reprimidos sem motivo algum. 

Ainda não havia os vândalos, certo.

O que senti foi uma ira, não sei se a tal ira santa, mas a ira, um sentimento LEGÍTIMO.
Mas se o objetivo do Choque era reprimir e preservar o patrimônio público, posso afirmar que fracassaram em ambas as missões.

Veja bem: fica bem difícil identificar e prender os vândalos sob a névoa pesada das bombas de gás.

Qual seria um lógica correta dentro de uma estretégia de segurança pública:

Proteger a prefeitura, marcar posição, e jamais recuar. 

Mas AVANÇAR, contra um grupo grande como aquele, ENCURRALADO entre uma avenida sem TRANSVERSAIS E COM UM CANAL NO MEIO!!!!!!!!!!!!
não lembrava mais como era o gás lacrimogeneo.

Não sei se a fórmula mudou ou eu que esqueci mesmo.

É desesperante, como se subitamente, não houvesse mais oxigênio para se respirar.

Como disse, eu estava na linha de frente, e quando olhei para trás, com aquela nuvem espessa e branca vindo em nossa direção, com o imenso muro do prédio dos correios a minha direita, e um canal intranponível a minha esquerda, e uma massa acuada, pensei no pior.
Era muita gente mesmo, muita garotada, muitas meninas.

Loucura atirar contra um grupo tão grande assim.

FRISO! Estou questionando o método e não os objetivos, supostamente a preservação do patrimônio.
Se esta era a motivação, porque o estado não colocou a PM acompanhando a passeata desde o início, como sempre faz?!?!?!

No trajeto não havia policiais, não havia batedores.
Confesso que tive um pequeno momento de pânico.

nâo conseguia respirar e não via saída.

Minha reação foi então a mais improvável. Corri em direção a nuvem.
Vi um ruinha que fica ao lado do teleporto.

Quando entrei correndo, vi uma série de motos derrubadas no chão, e lá no cantinho um grupo do choque entrincheirado com armas apontadas em minha direção.

Eu já estava sem camisa, com o rosto coberto.

Pensei: vão atirar em mim.
Fiz o óbvio, descobri o rosto, ergui os braços e gritei que era jornalista.

Embora isso já não seja credencial para nada.

Fui até eles.

Conversei.

Inútil.

O Choque atirava incessantemente.

Já havia conquistado o seu objetivo, afastar o grupo do prédio da prefeitura, mas parece que o Choque queria mais.

Parece que agora era pessoal.

Um caos.

Os tais vândalos, na verdade eram jovens que estavam muito putos da vida. Com muita coisa engasgada há muito tempo.

Por isso eu peço um tempo agora para pensarmos melhor sobre o conceito de Vandalismo que está se consolidando e sendo aceito por muita gente sem filtros.
Porque o Choque não parou e manteve a posição conquistada?

Diz o livro A Arte da Guerra que deve-se sempre deixar uma saída honrosa para o inimigo.

Não havia saída honrosa.
Foi quando vimos, lá no meio da fumaça, surgindo do meio da escuridão - Ah! Tinha isso também, curiosamente este trecho da Presidente Vargas estava com as luzes apagadas.

Então, lá do meio da fumaça vimos a imagem do terror. A linha retilínea e intransponivel do Choque avançando.

Todos de preto, capacetes, botas, escudos. É uma imagem assustadora.

E para piorar, de repente todos viram faróis fortes, e um carro muito grande aparecer na penumbra.

Pensei: vão jogar jato dágua na gente!

Mas o Choque não parava.

O veículo na verdade era o Caveirão do BOPE.

Um não, TODOS os caveirões disponíveis estavam na Presidente Vargas.

Contei CINCO!! Quatro pequenos e o maior de todos, adquirido recentemente.

E logo atrás a cavalaria. Posso chutar com folga 100 cavalos.

Isso mesmo! Acredito que todo o efetivo da Tropa de Choque tenha sido utilizado pelo Estado do Rio de Janeiro nesta noite.

Lembrando que a sede do Choque fica bem ali, perto do sambódromo.

E MAIS!!! O Choque não deixava que as pessoas tivessem nem TEMPO para se dispersar!

Para um grupo grande como aquele, precisaríamos de pelo menos 30 minutos para que, em ondas, os grupos que vinham atrás percebessem e voltassem, dando espaço para que os que fugiam da repressão DESPROPORCIONAL da Tropa de Choque.

Mas o Choque não parou por, creio, 1 hora.

Pensávamos. Essa munição uma hora vai acabar, tal era o volume de bombas lançadas indiscriminadamente em todas as direções.

Mas não acabava.

O olho arde durante alguns minutos, depois para.

Muitos compartilhavam o vinagre.

Molhei minha blusa, mas confesso que não sei se fez alguma diferença.

Preciso defender uma teoria arriscada agora:

estamos usando o adjetivo Vândalos de forma equivocada.

Estamos embarcando em um discurso criado pela imprensa para, em boa intenção, proteger o movimento.

Sim, todos reconhecem que a hora chegou, que o movimento é legítimo.

As frases são:

vândalos infiltrados...

bandidos aproveitadores...

pessoas que não representam o movimento...

Mas agora começo a pensar diferente.

Ficar cara a cara com o Choque e receber na cara balas de borracha, gás lacrimogêneo, bombas, cria um sentimento que só quem está lá pode entender.

A alegoria de Davi e Golias não foi criada à toa.

Ela evoca um sentimento inato, que trazemos de gerações em gerações, uma coisa que podemos chamar de arquetípica, de memória coletiva, de intuição, de todos que se indignam quando uma grande injustiça se posta em sua frente.

Desculpe decepcionar talvez alguns ou muitos, mas não são vândalos.

Os que saquearam bancas de jornais ou restaurantes, são bandidos, e devem ser administrados pela Polícia Civil. NUNCA PELO CHOQUE!!!

Vândalo é aquele que age por motivo fútil, por mesquinharia, sem motivação política.

Não é o que vi.

Estamos em um momento em que as opiniões estão sendo formadas.

Tudo é muito novo.

Precisamos estar atentos em como e quem está fazendo a nossa cabeça.

Nâo há aqui nenhuma teoria da conspiração.

Sim, estamos sempre influenciando e sendo influenciados, faz parte do processo de Formação de Opinião, assim com maiúsculas mesmo.

Faz parte.

Eu mesmo já tinha embarcado de peito aberto na teoria dos Vandalos-não-representativos.

NÃO É BEM ASSIM.

Prezados, o que foi feito hoje na Cidade do Rio de Janeiro é, sem declarações revolucionárias ou apaixonadas, mas sim dentro do Direito Internacional, UM CRIME DE LESA-HUMANIDADE.

Ou seja, quando um crime é cometido não contra um grupo, um patrimônio, mas sim sobre tudo o que chamamos, cultivamos e respeitamos como Humano, e que desemboca na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Não espero uma declaração da OEA, embora devesse ter, e muito menos das Nações Unidas.

O que posso dizer é o seguinte.

Venha na próxima. Veja a História com seus próprios olhos, tire suas próprias conclusões.

E FIQUE LONGE DA LINHA DE FRENTE.

Sérgio Cabral comprou uma briga feia. Ao depender de mim, não elegerá seu sucessor.


KF






sábado, 24 de novembro de 2012

O Rei dos Royalties

Governador: "Não faço mais Copa nem Olimpíadas!"

O Governador Sérgio Cabral, seguido pelo prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes - e outros prefeitos das poucas cidades beneficiadas pelos royalties do petróleo - pretendem parar a Cidade do Rio nesta segunda-feira.

Mas antes de apoiar o movimento, valem algumas ponderações.

Inicialmente precisamos corrigir, ou melhor, adequar alguns conceitos que circulam por aí indiscriminadamente, e que são os pilares dos que defendem a manutenção dos royalties como são.

Imagino que duas considerações precisam ser feitas: uma semântica e outra geográfica.

A primeira é a que fala em estados produtores de petróleo. Uma grande falácia já que sabemos não ser possível produzir petróleo. A tarefa é da mãe-natureza, coisa de milhões de anos decompondo matéria orgânica. Simples assim.

Falar em estados produtores de petróleo é indução ao erro. O verbo correto seria extrair.

O Rio de Janeiro é sim um estado produtor, mas de outros produtos como o aço, forjado pela Companhia Siderúrgica Nacional no município de Volta Redonda, ou o alface, produzido pelos agricultores das serras fluminenses.

Mas mesmo isso não satisfaz, já que quem extrai petróleo no Brasil, em sua maior parte, é a Petrobras e não o estado do Rio. E a Petrobras, apesar de ter suas principais sedes no Rio de Janeiro, não é uma empresa estadual. Qualquer um que visite sua sede principal, o curioso prédio com jardins suspensos na avenida Chile, não verá apenas cariocas ou fluminenses. Encontrará sim gente de todo o Brasil.

Outro verbo que podemos usar é Refinar. Isso sim uma atividade realizada em solo fluminense, mais precisamente no município de Duque de Caxias, onde fica a principal refinaria da Petrobras.

Conhecida apenas como REDUC, a refinaria é um gigantesco complexo industrial ocupando uma área de 13 kmà beira da Baía da Guanabara.

E sobre isso o Estado do Rio tira grande vantagem, com uma pesada tributação e a geração de milhares de empregos para a sua população.

Onde?
Longe pra xuxu!
A segunda consideração é geográfica. Todos os pontos de extração dos estados que atualmente se sentem prejudicados com a revisão da distribuição de royalties (ES, RJ e SP) estão localizados em alto mar. Todas as bacias petrolíferas da região (Bacia de Campos, Bacia de Santos e Bacia do Espírito Santo) ficam, em média, a 180 quilômetros da costa.

Dizer que esse produto, extraído em alto mar, por uma empresa nacional, quase nos limites da plataforma continental brasileira, pertence a este ou aquele estado, talvez seja demais para o entendimento do colunista.

Rio de dinheiro
Outra curiosidade que toda esta grita trouxe à tona foi descobrir o imenso canal de recursos que a Petrobras despeja nestes estados, além de alguns sortudos municípios, como são os casos de Campos dos Goytacazes, Macaé, Rio das Ostras, além do misterioso Quissamã, todos no estado do Rio.

É tanto dinheiro que o governador do Rio de Janeiro, falastrão que é, anunciou que o estado do Rio irá a falência caso a nova distribuição dos royalties seja efetivada. E foi além, chantageou a nação com a ameaça de não realização da Copa e das Olimpíadas. Quanta fanfarronice. Quanta irresponsabilidade.

E quão ultrapassado é essa coisa de royalties. Vejamos sua origem: segundo os dicionários, “Royalty é uma palavra inglesa derivada da palavra "royal", que significa aquilo que pertence ou é relativo ao rei, monarca ou nobre”. De fato a prática de pagamento de royalties não é exclusiva de nosso país, sequer é exclusiva do setor de petróleo, incidindo também na mineração. Um dos argumentos é que seria uma compensação. Mas compensação de que? Possíveis danos ambientais?

Para isso tem-se a legislação ambiental, que prevê pesadas multas e ainda a obrigatoriedade de compensação às partes prejudicadas e a regeneração da área atingida. Foi assim no vazamento de óleo na Baía da Guanabara em 2000, quando a Petrobras foi multada em 50 milhões de reais.

Neste caso, os royalties continuaram com o estado e municípios. Ou seja, é uma lógica que parece não fazer sentido. Paga-se como compensação de um possível dano, mas quando o dano acontece, quem paga a multa e limpa a sujeira é a própria Petrobras. Ao colunista, não parece algo muito claro.

O Petróleo é nosso...
O melhor, quem sabe, fosse que os lucros obtidos com a comercialização do petróleo retornassem para toda nação na forma de investimentos em setores fundamentais da sociedade brasileira. Além, é claro, de investimentos na própria Petrobras e na pesquisa científica, principalmente no desenvolvimento de outras fontes de energia, como  a solar e a eólica. Afinal de contas, a Petrobras gosta de dizer que é uma empresa de energia, então que venham os cata-ventos.

Soa simplista. E é.

Imenso painel colocado na Central do Brasil
No fim das contas, vale conferir como as cidades beneficiadas estão se saindo. Campos dos Goytacazes, reduto eleitoral de Anthony Garotinho, receberá, só em 2012, quase R$600 milhões. No entanto, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano, Campos está em 1812o lugar entre os 5507 municípios brasileiros. Rio das Ostras em 1188o, e a tal Quissamã em 2389o.

Sérgio Cabral não está poupando esforços. O volume de publicidade espalhado pela cidade é de envergonhar qualquer tribunal de contas. A passeata oficial do governo do estado vai estar lotada de caravanas patrocinadas com dinheiro público. De certo a Cinelândia já viu dias mais gloriosos.





KF

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As tarefas de cada um


Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Não há quem não conheça as três tarefas básicas para, o que dizem, ser uma vida completa.

No caso do colunista, árvores já foram algumas, o livro foi publicado faz nove anos, e a filha nasceu há cerca de um.

Agora, depois de cumpridas todas, uma coisa me parece certa: escrever um livro é com certeza a mais trabalhosa.

Isso sem falar que escrever não significa que necessariamente verás a obra publicada. Em um mercado de poucos leitores como o brasileiro, ter um livro na estante de uma livraria nem sempre depende-se apenas do talento, muitas vezes é preciso forçar a porta do mercado.

Mas antes de pensar na fila de autógrafos, é preciso escrever, escrever, escrever, reescrever, cortar palavras, colocar outras no lugar, e tornar a escrever.

Viajar para escrever

A história de como escrevi o livro “Avenida das Américas – uma viagem de bicicleta pela América Latina” leva quase uma década entre idas e vindas a uma máquina Olivetti, nesta labuta pelo parágrafo perfeito. 

Mas no caso de um relato de viagem, havia ainda um outro elemento desafiador: como reviver uma história tão intensa - e colocá-la no papel de forma fiel -  no meio dos afazeres do dia-a-dia?

Primeira página do original
Depois de inúmeras tentativas em casa, veio a decisão de que para escrever o livro eu teria que me afastar do cotidiano e mergulhar novamente na viagem.

Ao longo dos 10 anos de produção do texto, foram três viagens para locais diferentes. Itapecerica da Serra, na grande São Paulo, onde um tio-avô morava em uma chácara; Sana, distrito de Casemiro de Abreu, no norte fluminense, onde dividia com uns amigos uma casinha no meio do mato; e finalmente para a cidade serrana de Petrópolis, onde aluguei uma casa de temporada para, enfim, terminar o livro.

Com o Avenida das Américas pronto, passei a bater nas portas das editoras, principalmente aquelas que já tinham publicações dentro do mesmo segmento.

Todas fechadas.

Os anos passavam e nada de encontrar uma brecha. Com a certeza da qualidade do texto e, acima de tudo, da história, tomei a decisão de publicá-lo por conta própria. Ou melhor, através de uma parceria com uma pequena editora carioca. Eu pagaria pelos custos de diagramação, arte e impressão, e eles cuidariam da distribuição. Nisso foi-se o meu Palio 1998.

O livro foi lançado numa bela manhã de dezembro de 2003, no casarão do Parque Lage, no Rio de Janeiro.

O livro é do leitor
Desde a sua publicação, o livro proporcionou ao colunista uma série de alegrias, que naturalmente não vieram do retorno financeiro, mas sim do inesperado resultado que vinha da experiência de cada leitor.

O livro conta não só a história da viagem, mas também um pouco da história da América Latina,  sempre relacionada com o que eu havia vivido durante os seis meses cruzando o continente.

Com isso, o livro acabou gerando o interesse de escolas. A primeira a adotar foi a escola George March, da cidade de Teresópolis, no estado do Rio. Incluído dentro do que os professores chamam de leitura transversal, o livro foi um grande sucesso, gerando uma série de trabalhos dentro e fora de sala.

Vem daí uma das muitas histórias da relação dos leitores com o livro. Essa foi assim: a diretora recebeu a ligação de um pai querendo saber que livro era esse que a escola havia indicado. Apreensiva, ela logo quis saber o motivo. O pai relatou que a filha tinha deixado de ir a uma festinha com as amigas para ficar lendo o livro, o que ele achou realmente incrível. Alívio geral para a diretora, e satisfação enorme para o autor.

Depois disso veio o Instituto Metodista Bennett, tradicional instituição de ensino carioca. A escola não tinha adotado o livro, mas algumas professoras decidiram organizar uma palestra.

O auditório de 200 lugares lotado de pré-adolescentes frenéticos parecia prever o pior. Procurando evitar um possível vexame, a organizadora do evento me chamou em um canto e já antecipou as desculpas por qualquer algazarra fora de controle. Recomendou que eu falasse em torno de 20 minutos e abrisse logo para perguntas. Em seguida, todos seriam liberados para o recreio.

O que aconteceu foi que o autor falou durante duas horas sem ser interrompido. No final as perguntas não paravam, levando as professoras a limitar a participação e organizar as perguntas em blocos.

Sem perceber, todos perderam o recreio.

Durante muito tempo a caixa postal do colunista amanheceu com mensagens de carinho, nas mais diversas formas. Como uma que disse que nunca tinha lido um livro tão rápido, outro que comprou o livro, saiu lendo, continuou no carro, no restaurante, e voltou para casa lendo. Ou ainda uma que escreveu assim: “Oi Kadeh, finalmente acabei de percorrer o Avenida das Américas junto com você...Ufa! Infelizmente não perdi uma só caloria...”.   Ou ainda um emocionante que recebi de um grande amigo dizendo assim: “Quando acabei de ler eram umas quatro da manhã e não conseguia ficar quieto. Era preciso o movimento. Peguei minha bicicleta e fui dar um rolê. Só para arejar a cabeça. Pedalando fiquei com os olhos cheios d’água novamente. Podia até ser um cisco no olho, mas era felicidade mesmo.”.



20 anos de estrada
Recentemente o colunista percebeu que uma data fechada se aproximava. No dia 19 de setembro de 2012 completariam 20 anos da viagem. Pensei se era preciso uma comemoração ou um grande evento.

Os dias passavam e nenhuma idéia aparecia para marcar a data.

No dia 15 de setembro chegou uma mensagem pela rede social. Uma amiga pedia a autorização para passar o meu correio eletrônico para uma pessoa que conhecera recentemente e que, segundo ela, havia mudado a vida por causa do meu livro.

Exageros a parte, naturalmente sinalizei positivamente.

Dias depois recebo a seguinte missiva:

Boa noite Kadeh,

No ano passado fiz uma viagem de bike pela América do Sul. E minha primeira idéia de viajar veio do teu livro, Avenida das Américas.

Quando tinha uns 13-14 anos vi seu livro numa livraria, procurando histórias boas na seção de viagens.

Achei aquela história de ter viajado de bike incrível, nunca tinha ouvido falar disso!

Aí comprei o livro e devorei em uns poucos dias, fiquei vidrado naquela idéia, já fiquei pensando que era assim que eu tinha que viajar...

Quando tinha uns 15-16 anos comprei um quadro de cromo já pra montar a bike pra cair na estrada, mas não tinha dinheiro pra mais nada...

O quadro ficou uns 4 anos encostado atrás da escrivaninha até eu começar a trabalhar e juntar uma grana pro resto das peças.

Enfim, essa história é longa, mas começou com seu livro, e sempre fiquei curioso pra te conhecer e agradecer pelo livro.

Brigadão,

Leonardo de Carvalho Soares

Leonardo, sem saber, deu o presente que a data merecia.

Epílogo
A autoria ou a origem do provérbio que abre este artigo perdeu-se no tempo. Soa como chinês ou árabe, culturas a quem devemos muito do que somos hoje. Interpretações mil podem ser feitas, mas parece mais que fala sobre o legado que cada um deixa ao passar por esta vida.

O livro Avenida das Américas teve uma tiragem de 2 mil exemplares. É hoje considerado esgotado. O autor mantém uma reserva técnica de 15 exemplares. E mais nada.

Há anos venho tentando republicá-lo, ciente de que a trajetória deste livro ainda não se encerrou.

Mensagens como a de Leonardo ajudam a manter a confiança.


Carpe diem



KF


A história de Leonardo pode ser conferida no blog que ele montou, o caminhosdebicicleta.blogspot.com.

O do colunista em:  cicloamericas.wordpress.com.