O colunista já ia se dar por vencido e entregar os pontos admitindo que não iria cumprir com o prazo do blog, que todos sabem que é de um texto por semana, quando apareceu a oportunidade salvadora aos 48 minutos do segundo tempo. E a linguagem futebolística, neste caso, não terá sido mero estilismo.
A coluna desta semana iria falar sobre o homem por trás do bigode, ele mesmo, Sarney, mas a fonte das informações, uma grande amiga de São Luis, não encontrava hora para falar comigo de um aparelho fixo, pois convenhamos, bater um papo interurbano pelo celular ainda não está no orçamento de Um texto por Semana. Sarney fica para a semana que vem.
O assunto caiu no meu colo ao abrir hoje cedo o jornal. Logo na capa uma notinha chamava para a matéria principal do caderno de esportes: “FIFA proíbe marketing religioso”.
Voltemos no tempo...
No domingo 28 de junho grande parte do Brasil parou para ver a final da Copa das Confederações. O campeonato, que não havia motivado muita gente, afinal grande parte dos jogos foram no meio da tarde durante a semana, chegava ao seu final com uma zebra e uma barbada: EUA x Brasil.
Quem não viu perdeu um jogaço! Os primeiros 45 minutos anunciavam que a zebra, animal mais que acostumado às planícies da África do Sul, ia dar mesmo seu galope tranqüilo: 2 x 0 para eles.
Mas o Brasil virou para 3 x 2 (4 x 2 sem juiz) e aí foi só comemorar. E foi justamente aí que começaram os problemas.
Não pude acompanhar pela imagem da TV, mas parece que foi o Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Kaká, quem primeiro arrancou a camisa da Seleção Brasileira para fazer propaganda da sua fé: “I belong to Jesus”, eu pertenço a Jesus, dizia a camiseta branca com letras pretas. Logo depois veio o zagueiro Lúcio, e mais uns três ou quatro que eu desconheço o nome, já que a seleção brasileira é hoje um apanhado de ilustres desconhecidos que vão desde cedo para os gramados europeus.
Não pode! Pensei eu já me ajeitando no sofá. E por aí foi um festival de demonstrações de fé, principalmente por aqueles de agremiações pentecostais, conhecidos como evangélicos, culminando com a já tradicional rodinha de ajoelhados rezando uma Ave Maria. Patético.
Antes que o leitor mande o colunista arder no mármore do inferno, vou logo avisando que, apesar de ateu declarado, convicto e comovido, não estou aqui pra chutar santa de ninguém, revirar despacho em encruzilhada ou roubar o dízimo da cestinha. Respeito a fé de quem precisa ter fé, mas não com a Seleção Brasileira, que com toda certeza, leva letras maiúsculas sem nenhum medo da dona gramática.
Na manhã seguinte ao jogo, o colunista, que é mesmo meio esquisito, talvez tenha sido o único a se importar em entrar no site da CBF para encontrar algum email de contato. E lá estava ele: comunicacao@cbf.com.br. Mandei a letra.
Para: "comunicacao@cbf.com.br" comunicacao@cbf.com.br
data: 29 de junho de 2009 10:58
assunto: sobre religião em comemorações
Prezados, antes de mais nada parabéns pelo trabalho e pelo título. Apenas um comentário, acho inadequadas as manifestações de religiosidade, seja de qual for, dentro do gramado e vestindo a camisa da seleção brasileira. Da mesma forma que um atleta não pode exibir qualquer opinião política, também não poderia expressar a sua religião. Fora dos gramados é uma questão de cada indivíduo. A Seleção Brasileira representa o país e deve manter-se isenta. A CBF deveria orientar os atletas neste sentido.
Att Kadeh Ferreira
Pergunta se alguém da CBF respondeu?
Mas a redenção veio hoje. Com o título “A escalada da fé nos gramados”, o coleguinha Fábio Juppa d’O Globo conta em sua matéria que a FIFA decidiu proibir qualquer manifestação religiosa nos gramados em jogos dentro de sua alçada. E o estopim foi justamente a excessiva comemoração dos brasileiros na final da Copa das Confederações.
Deixa eu dizer uma coisa para esses meninos, a camisa da Seleção Brasileira é um manto sagrado, o maior de todos, o único e exclusivo. Representa uma nação, representa um sentimento, representa, acima de tudo, uma identidade cultural. Aquilo que, mais do que qualquer coisa, nos faz brasileiros. Não poderia sequer ser retirada do corpo. E eu acho até que não se pode jogar com a camisa para fora do calção ou as meias arriadas. Sou, nesse caso, um tradicionalista. Jogo de Seleção Brasileira é um clássico, e assim devem se portar aqueles que representam nosso país mundo afora.
Agora ainda inventaram uma nova moda, que deve ser coisa lá dos gramados na Europa - pois por aqui ainda não vi - que é essa coisa de colocar a camisa ao contrário. Pasmem, teve jogador que foi receber a medalha com a camisa com as costas para frente. Um absurdo total!! Falta de respeito à Amarelinha!
E o que foi o Lúcio, aquele ser com cara de mal-humor permanente, com a camisa “I Love Jesus” enfiada no calção, indo buscar a taça e a erguendo com aquela camisa pendurada!?! Porra, o cara é o capitão da Seleção Brasileira, o homem escalado para erguer a taça para todas as lentes do mundo captarem, e lá estava a camiseta panfletária pendurada no calção.
Se Kaká quer casar virgem e freqüentar a igreja dos pastores presos (Kaká freqüenta a Renascer em Cristo, cujos donos, os pastores Estevam e Sônia Hernandes, estão presos em Miami por tentarem entrar nos EUA com dólares escondidos), isso é um problema dele. Se Kaká quer doar a taça que ganhou como melhor jogador do mundo em 2007 para a igreja, também é problema dele. O que o jogador faz fora de campo, a paisana, fica por sua conta e risco, mas vestindo a amarelinha, nem pensar.
A determinação da FIFA vale para todos os jogos e todas as religiões, já que os jogadores do Egito também se ajoelhavam a cada gol, fazendo reverências a Meca.
Ufa!
A CBF não me respondeu, e provavelmente também não vai te responder, mas se você quiser tentar, vai lá novamente o email da dona do futebol brasileiro:
comunicacao@cbf.com.br
KF
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loko mano 100%vida loca
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