segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rio de Dinheiro: 2014-2016


Arion, o mascote dos Jogos Militares 2011

A nobre leitora e o prezado leitor já devem ter ouvido por aí que estamos iniciando a Década de Ouro brasileira.  Mas o que, na opinião do colunista, vale realmente conferir é para quem irá o ouro. E não estamos falando de medalhas.

Os grupos

Eventos esportivos de grande porte custam mesmo fortunas. E onde fortunas estão sendo gastas, há os grupos empresariais interessados nos lucros.

Dois grupos estão envolvidos com a vinda da Copa do Mundo e das Olimpíadas para o Brasil. De um lado as empresas que fazem negócios com o cartola Ricardo Teixeira, que há 22 anos comanda a CBF. De outro o grupo que fecha contratos com o chefão do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, a frente da instituição há 16 anos.

Chama a atenção o fato de que, desde que vencemos as duas concorrências, o único assunto que ocupa as páginas dos jornais quando o tema é tratado não são os esportes, a preparação dos atletas, o investimento em centros de treinamento, mas sim os valores dos orçamentos, o estouro dos orçamentos, o sigilo nos valores do orçamento, os atrasos na execução que geram orçamentos cada vez mais altos em um rio de dinheiro que não sabíamos nem que tínhamos em nossos cofres.

Mas e do esporte? E o investimento nas novas gerações? Saberíamos dizer quem são as promessas? Quem são os atletas que o Brasil está formando para se destacar em casa, assim como fizeram os chineses?

O Projeto 119

Assim que soube que sediaria as olimpíadas de 2008, o governo chinês lançou um ambicioso projeto em busca do topo do ranking das medalhas. O objetivo era claro: superar os Estados Unidos!

A China então investiu cerca de 6 bilhões de dólares na formação de atletas em 3000 escolas esportivas espalhadas pelo país. Trouxeram de diversos países especialistas nas modalidades que eles ainda não dominavam. O projeto se chamou 119 pois os chineses se deram conta de que era justamente nas modalidades onde vinham tendo resultados menos expressivos, no caso o atletismo, natação, remo, vela e canoagem, que estavam uma grande quantidade de medalhas de ouro em disputa, no caso, precisamente 119 delas.

O resultado a gente viu no final. A China superou os EUA com ampla vantagem: 51 ouros contra 36 dos norte-americanos (o Brasil conquistou 3 ouros). A isso podemos chamar de projeto olímpico, por mais desagradável que seja para o colunista elogiar o regime chinês.


Apagão da informação

Se parece que os órgãos ligados ao esporte não estão preocupados com a formação dos nossos atletas, tão pouco a imprensa está interessada no assunto.

E os motivos talvez sejam os mesmos que movem os grupos empresariais que tanto lutaram para trazer estes jogos para o Brasil: lucro. E no caso da imprensa, o motivo pelo hiato na cobertura pode estar justamente na ausência desse retorno financeiro.

Para que o leitor que não conhece ou acompanha de perto a maneira de se fazer jornalismo no Brasil, vale uma breve iniciação.

Lamentavelmente, vivemos um mercado dominado por apenas uma empresa, a Rede Globo. Para se ter uma dimensão mais palpável do que estamos falando, a Globo (ainda) detém 70% do mercado publicitário. Não há aqui uma crítica a emissora neste quesito, visto que a qualidade do que produz merece a fatia de mercado, mas deixar a formação da opinião nas mãos de apenas um grupo jornalístico, tem o seu preço.

A Globo é tão influente que forma a opinião não só de seus clientes, mas também da concorrência tamanha é a força da sua marca e da sua máquina. Para entender como isso funciona na prática, basta dizer que todas as redações do país param para assistir os telejornais da emissora, seja o Jornal Hoje, Jornal Nacional ou Jornal da Globo. O que sai ali é o que vai ser notícia. O que sai ali é o que se vai atrás.

Mais jogos ainda

No momento em que publicamos mais esse texto, inicia-se no Rio de Janeiro os Jogos Mundiais Militares, um evento esportivo não tão vigoroso como as Olimpíadas, mas com certeza maior que os Jogos Pan-americanos.

Mesmo assim, não fosse a publicidade paga, provavelmente nem nos daríamos conta de que um evento que reúne 6 mil atletas vindos de mais de 100 países, em 20 modalidades, algumas presentes apenas em jogos desta categoria, está acontecendo no país.

Para ilustrar o argumento, podemos dizer que os números acima não foram capazes de seduzir, por exemplo, os editores do dominical Esporte Espetacular da TV Globo que, apesar de sua épica duração de 3 horas, não deu nenhuma linha sobre os Jogos Militares na edição que precedeu o início da competição.

Não se mostrou quem são os atletas-militares que irão defender o Brasil ao longo dos nove dias de competição, não se documentou como foi sua preparação. Não foram apresentadas as sedes dos jogos. Não foram divulgadas as modalidades, algumas exclusivas dos Jogos Militares como o natação de salvamento, natação utilitária, paraquedismo, corrida de orientação, ou o até mesmo a pouco simpática (e deveras arcaica) lançamento de granadas (isso mesmo, nobre leitor, lançamento de granadas!).

Nada disso foi capaz de atrair a atenção da Rede Globo, e por consequência...

Daí começa a parecer que o jornalismo praticado pela Globo não está interessado no esporte, mas sim nos contratos publicitários que um evento como este gera para a empresa. Ou seja, não havendo lucro, não há cobertura.

Ok, vamos lá.  Aqui temos apenas um colunista e não um comunista. Nada contra o lucro. Mas cabe a um veículo de comunicação, até pelo seu caráter de concessão, uma certa dose de participação voluntária no desenvolvimento de seu país.

Mas caso o leitor ainda esteja achando o colunista exagerado, quase revanchista, aqui vai mais um argumento, e esse assaz escandaloso.

Pan pan pan pan!

O leitor saberia dizer quando serão os próximos Jogos Pan-americanos? Saberia dizer onde será realizado?

O leitor ficaria surpreso se o colunista lhe informasse que os Jogos Pan-americanos acontecerão dentro de 3 meses na cidade mexicana de Guadalajara?

Sim, dentro de três meses teremos novamente os jogos que unem os atletas das Américas!!!

Saberíamos dizer que são os atletas que se prepararam nos últimos quatro anos para representar a nossa bandeira no México? O nosso velho e bom México de boas lembranças da década de 1970?

Pois é nobre leitor. E você quer saber por que isso está acontecendo? Você quer entender como sua opinião é formada e manipulada?

A compra do pódio

Há dois anos atrás aconteceu algo inédito no mercado jornalístico brasileiro. Pela primeira vez a Rede Globo teve sua hegemonia abalada, perdendo um edital internacional para a aquisição de direitos de transmissão. Quem venceria seria a TV Record, que através de uma oferta milionária adquiriu os direitos de transmissão de Guadalajara 2011.

Entendeu agora por que parece que o Pan não está acontecendo?

Fica claro também que o compromisso da Globo não é com o atletismo nacional, com o esporte, com tudo o que vem nesse pacote (saúde, bem-estar, patriotismo e quetais) mas sim com contratos publicitários. Sendo assim, o fato comercial supera o fato jornalístico.  

Mas isso ainda não é o mais grave. A TV Record também venceu a Globo para as Olimpíadas de 2012 em Londres!!!!  É ou não é algo nunca antes visto na história deste país?

E agora? Será que a Globo vai ignorar também as Olimpíadas de 2012?

Fosse o compromisso com o esporte, deveríamos estar assistindo através das lentes da líder de mercado, que sem dúvida alguma tem as melhores equipes de jornalistas e cinegrafistas, não só do Brasil como do mundo, uma cobertura exemplar para os Jogos Panamericanos, que a partir de 2007 passaram a fazer parte do nosso vocabulário.

E porque não exigir o mesmo para os Jogos Militares? Não só pelo seu ineditismo (está apenas em sua quinta edição), mas pela inspiração que pode trazer a uma nação.

Se fosse profissional, teríamos acompanhado a bela cerimônia de abertura onde, em um gesto ousado e moderno para uma instituição conservadora e masculina como as Forças Armadas, foi concedida a uma mulher a honra de hastear a bandeira nacional diante da Pira Olímpica. Mas não só uma mulher, mas a primeira oficial de origem nativa, a tenente Sílvia Wajãpi.

No final acabamos descobrindo que a imparcialidade é um mito e que o ouro, talvez seja de tolo.




KF


Em tempo:

  • Os Jogos Militares seguem até dia 24 de julho. Todas as competições com entrada franca.
  • Também nos Jogos Militares o orçamento estourou. Quem paga a conta é o Ministério da Defesa. Ou seja, eu e você.
  • A TV Record é de propriedade do Bispo Edir Macedo, dono também da Igreja Universal do Reino de Deus.
  • É difícil de acreditar que as verbas publicitárias da Record tenham sido suficientes para bancar o compra dos direitos de transmissão do Pan 2011 e Olimpíadas 2012.
  • Os militares chineses já lideram o ranking de medalhas dos Jogos Militares.
  • Dilma não foi vaiada.
  • Para mudar de canal use o controle-remoto.


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Antonio Palocci, Strauss-Kahn, e a obsolescência do jornalismo investigativo

Uma curiosa conexão une os casos do brasileiro Antonio Palocci e do francês Dominique Strauss-Kahn.

Mas para chegar a esta conclusão, precisamos primeiro relembrar com um pouco mais de detalhes a tumultuada carreira do paulista Antonio Palocci.

Palocci, o mafioso bonzinho
Médico, cara de bom moço, fala mansa e sempre com um leve sorriso no rosto. Gozando de prestígio, até bem pouco tempo, inclusive na oposição, Palocci é o tipo de sujeito que a gente dá crédito e nem desconfia.

Não é por menos. Hollywood nos educou a ver os criminosos como homens maus, feios, de fala grossa, barba mal feita e que sempre, sempre sempre, se dão mal no final.

Não é assim na vida real.

Palocci é um reincidente, pelo menos nas páginas dos jornais, já que na justiça tem conseguido escapar ileso. Sua carreira política inicia-se na cidade paulista de Ribeirão Preto. E é de lá que surgem as primeiras denúncias de corrupção, ativa e passiva.

As primeiras acusações são de sua passagem como prefeito. Palocci seria acusado de receber propina de uma empresa de coleta de lixo em troca de favorecimento em uma licitação. Palocci também se envolveria em irregularidades na compra de cestas básicas. Além disso, ainda foi implicado em denúncias que alegavam a cobrança de mesadas de empresas que prestavam serviços à prefeitura.

Traficante de Influência
Mas seria no governo Lula que Palocci sofisticaria e ampliaria seu esquema de arrecadação de dinheiro em governos do PT, e também em empresas governamentais que gerissem um grande volume de contratações de serviços terceirizados (onde a propina pode ser cobrada sem deixar muito rastro).

Para tocar o negócio, Palocci precisava de uma base onde seus lobistas de Ribeirão Preto pudessem atuar em Brasília. Para isso, através de testas-de-ferro ou assessores, como o agora notório Rogério Buratti, por exemplo, foi alugada uma mansão na área mais nobre de Brasília, o Lago Sul (a casa teria ainda outra função, o entretenimento destes homens nos momentos de folga. A presença de prostitutas era uma constante em festas realizadas duas vezes por semana, mas isso não é da nossa conta e sim das esposas de cada um).

Palocci era conhecido pelos frequentadores da casa como “Chefe”. E o chefe aparecia toda semana, e não era para as festinhas.

A CPI dos Bingos
Hoje já nos demos conta de que uma CPI não serve para nada além de ser uma ferramenta usada pela oposição para enfraquecer e/ou chantagear o governo. Quem está fora do governo a usa apenas para expor os inimigos em praça pública através de intermináveis interrogatórios televisionados.

Não se tem notícia de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tenha servido para moralizar o Congresso Nacional ou devolver aos cofres públicos o dinheiro que é desviado em maracutaias e negociatas. Cassações então, nem pensar! Impera o corporativismo.

Das dezenas que já tivemos, uma delas investigava o uso de bingos para a lavagem de dinheiro. Quem montou a CPI não sabia que iria mirar em um passarinho e acabar derrubando um avião.

No início de 2004 fomos todos apresentados ao senhor Waldomiro Diniz (quer nome melhor para um mafioso?). Ele foi flagrado em vídeo achacando o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Waldomiro era assessor de José Dirceu.

Puxando daqui e dali foi que a CPI dos Bingos acabou esbarrando com o esquema de arrecadação ilegal montado por Palocci na mansão do Lago Sul, que ficaria conhecida como República de Ribeirão Preto.

A casa tinha sido alugada em nome de um tal Vladimir Poleto. Este, por sua vez, tinha um motorista chamado Francisco das Chagas. Francisco foi convocado a depor.

E foi durante esse depoimento que um simples detalhe citado por Chagas mudaria o rumo das investigações. O motorista falou sobre a existência de um caseiro na mansão.  Foi o suficiente para Francenildo Santos Costa entrar na história e entrar para a História.

O homem-bomba
Antes mesmo de ser convocado oficialmente para depor na bancada da CPI, Francenildo já sabia que sua vida estava fadada. Seu nome ecoava em todos os noticiários. Pensou em fugir, mas desistiu ao pensar no único filho.

Sem conhecimento nem malícia para lidar com tamanha confusão, Francenildo acabou orientado por pessoas nem tão bem intencionadas assim. Acuado, foi aliciado por políticos da oposição, no caso o então senador tucano Antero Paes de Barros, que o convenceu de que a única forma de se proteger seria falando com a imprensa.

Paes tentou primeiro a revista Época, através do jornalista Andrei Meireles, mas Meireles não se interessou na isca lançada pelo senador. Quem morderia seria a jornalista Rosa Costa, do jornal O Estado de São Paulo.

A matéria foi para a capa com o título: “CASEIRO DESMENTE PALOCCI E DIZ QUE MINISTRO VISITAVA MANSÃO”.

O circo começava a pegar fogo.


O ataque é a melhor defesa
Apesar do caso envolvendo o então ministro da Fazenda não ter necessariamente a ver com o objeto de investigação da CPI, no caso a lavagem de dinheiro através de casas de bingo, a convocação de Palocci para depor era agora uma bandeira da oposição. Não pela possibilidade de apurar a corrupção em si, mas na brecha aberta para enfraquecer o governo, derrubando seu principal ministro.

Não nos enganemos, não havia ali nenhum sentimento patriótico, nenhuma postura pelo saneamento da política nacional. Era pura vingança e mesquinharia. Mas, lamentavelmente, é na briga suja de gente poderosa que a Democracia ganha alguma chance de se fortalecer.

Palocci sabia onde tinha estado e onde não tinha estado. No entanto, sem provas materiais de sua ida a mansão, ele contava agora com o embate de versões e currículos. Seria um ministro contra um caseiro. E para isso, Palocci precisava de elementos para desmoralizar o inimigo, e cúmplices para encobrir o golpe que estava prestes a desferir.

Ouvi dizer
Por uma dessas coincidências do destino, na mansão ao lado morava a jornalista Helena Chagas, editora de política e chefe da sucursal do jornal O Globo em Brasília.

Enquanto acompanhava a manada de jornalistas que agora se aglomerava na frente de sua casa, Helena ouviu um comentário feito pelo seu jardineiro. O funcionário de Helena dizia que estava chateado com toda a confusão, que iria atrapalhar o negócio que Francenildo faria com sua irmã: a compra de um terreno.

Helena mandou logo fazer uma matéria. O título não poderia ser mais capcioso: “COLEGAS DO CASEIRO AFIRMAM QUE ELE VAI COMPRAR UMA CASA”. Não havia apuração, a fonte era duvidosa, e intenção cheia de maldade.

Em um momento de sanidade pouco comum em redações de jornais, principalmente em situações como esta, onde o furo vale ouro, os editores no Rio de Janeiro decidiram não publicar a matéria sugerida por Helena Chagas.

Mas ela não se daria por vencida. Achava que estava diante de uma grande história. Foi direto ao Congresso e lá deu de bandeja  a suposta informação ao então senador Tião Viana (PT-AC): “Olha, parece que que tem uma informação de que o rapaz recebeu dinheiro, a gente está indo atrás disso”. Helena Chagas, a partir de um entreouvido de uma conversa entre jardineiros, chegou a conclusão de que o caseiro atuava em nome da oposição por interesse financeiro. Transformou sua especulação em fato ao soltá-la no mundo real.


Francenildo, o filho
O resto da história a gente já conhece. Tião Viana repassou imediatamente a informação a Palocci. O ministro mandou ordem ao presidente da Caixa Econômica, Jorge Mattoso, para que violasse o sigilo bancário do caseiro para checar se havia algum valor que não batesse com os rendimentos de sua profissão.

E Bingo! Havia!

O Globo não deu, mas a revista Época se prestou ao papel de esquentar a notícia falsa publicando o extrato ilegal sem sequer ouvir o outro lado, sem nem ao menos checar com Francenildo.

O então diretor editorial das revistas da Globo, Paulo Nogueira, diz hoje que Palocci teria passado por cima da redação entrando em contato direto com os diretores das Organizações Globo, ou seja, a própria família Marinho. “Palocci foi quem fez chegar a nós, na redação da Época, informações que supostamente desqualificariam um caseiro de Brasília que dissera que ele freqüentava uma mansão pouco recomendável quando era ministro da Fazenda. Foi um dos episódios mais desagradáveis de minha carreira”, escreveu Nogueira em seu blog Diário do Centro do Mundo.

O resto da imprensa veio junto, ignorando a cartilha mais básica da profissão: a apuração! Valia a lei de publicar primeiro e perguntar depois, uma postura distorcida muito ligada ao medo de se levar um furo (ou a fissura em dar um furo).

Mas qual não seria a nova reviravolta do caso. Francenildo era filho biológico do piauiense Eurípedes Soares da Silva. Meses antes do caso estourar, Francenildo tinha estado em Teresina para tentar, pela segunda vez em sua vida, conseguir o reconhecimento do pai.

Eurípides já era casado, tinha outra família e uma pequena empresa de transportes. Não queria confusão para o seu lado. Para se ver livre de Francenildo o mais rápido possível e ganhar tempo para contar a família, ofereceu 30 mil reais e a promessa de voltar a conversar sobre o assunto em um ano.

Francenildo aceitou.

Strauss-Kahn
Quando o colunista leu na imprensa que Dominique Strauss-Kahn estava contratando uma equipe de investigadores para devassar a vida da camareira guineense Nafissatou Diallo, não teve como não lembrar do caso Francenildo. Até porque, curiosamente, Palocci estava novamente nas páginas dos jornais.
 No entanto, Strauss-Kahn teve uma reação diferente de qualquer envolvido em um caso como este, mantendo-se calado e aceitando as algemas sem protesto, sem gritos, sem resistência, parecia claro que estava ali estampado um mea culpa.

Mas ao observar o caso mais de perto, com os fatos que chegavam a cada dia, o colunista tinha cada vez mais uma pulga que saltitava atrás da orelha. Alguma coisa naquela história não estava encaixando.

Nafissatou Diallo afirmava que havia sido estuprada por Kahn dentro do quarto do Hotel Sofitel em Nova Iorque. O diretor-presidente do FMI teria saltado do banheiro totalmente nu e a agarrado.

Dá pra acreditar?

Até daria, mas uma luta corporal certamente se daria em seguida. Strauss-Kahn deveria ter ao menos um arranhãozinho, certo?

Dominique Strauss-Kahn foi detido dentro da primeira-classe de um avião que preparava-se para decolar para Paris. Como assim? O executivo teve tempo de fazer a mala, sair do hotel, cruzar a cidade até o aeroporto, despachar as malas, embarcar, sentar, afivelar o cinto... e só aí a polícia chegou?

Porque levou tanto tempo para a camareira fazer a denúncia?

Daí veio esta: o exame da perícia havia encontrado “material genético” de Strauss Kahn na gola da camareira.

Epa!, gritou o colunista. Na gola?!?!

Material genético, como sabemos, é uma forma polida de dizer que havia sêmen na roupa da camareira.

Ficou claro, então, que se tratava de um felatio promovido pela camareira em Strauss Kahn, ou, como diríamos no popular, Nafissatou havia proporcionado ao figurão do FMI um boquete de despedida.

Venhamos e convenhamos, a não ser que estivesse sob a mira de uma arma, é difícil associar o crime de estupro à prática anteriormente citada. Os dentes podem fazer um senhor estrago naquela região da anatomia masculina.

Mas nada disso chamou a atenção da imprensa norte-americana e mundial.

Os episódios envolvendo Palocci e Kahn chamam a atenção para algo que merece cuidado: será que a profissão de jornalista vem perdendo perigosamente a sua independência e o seu instinto, o faro? Será que pautados pelo escândalo, que parece vender mais jornais, o jornalista está amolecendo a sua ética? Ou será a culpa dos consumidores, mais interessados no sensacional? Será que o mercado está distorcendo as pautas dentro das redações?

Terá o jornalismo investigativo caído em obsolescência?

KF


EM TEMPO:

  • Se as práticas de Palocci já eram conhecidas, resta saber se Dilma o colocou na Casa Civil (antes ocupada por ela mesma, Erenice Guerra e José Dirceu – que turma!) por pressão do PT ou por conivência.

  • Assim como José Dirceu e Delúbio Soares, Palocci faz sua misancene de saída e permanecerá no poder.

  • Francenildo está processando a revista Época e a Caixa Econômica Federal. A Caixa foi condenada recentemente a pagar R$500 mil. Está recorrendo. Antes havia oferecido R$45 mil com a condição de que ele assinasse um documento inocentando a Caixa Econômica Federal. Não aceitou. A revista, por sua vez, parece que vai escapar.

  • Semanas depois de plantar a notícia falsa sobre Francenildo, a jornalista Helena Chagas foi demitida de O Globo. Mas caiu para cima. Logo em seguida foi indicada para a diretoria da Empresa Brasileira de Comunicação, órgão do governo Lula. Depois saberíamos que sua proximidade com o PT e com Palocci era íntima. Foi assessora de imprensa da campanha de Dilma Roussef (coordenada por Palocci) e hoje é Secretária de Comunicação do governo Roussef. Tem status de Ministra.

  • Frase de Francenildo dita recentemente por ocasião da fortuna amealhada por Palocci: “Por que ele não explicou de onde veio o dinheiro? Eu tive que explicar”.

  • Brasília continua um balcão de negócios onde atuam centenas de picaretas com anel de doutor.

  • Ainda não se sabe quanto Nafissatou cobrou pelo boquete.



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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Will & Kate: a realidade de um casamento



O colunista não foi...
 Uma das informações mais curiosas de toda a gigantesca cobertura do casamento de William e Catherine foi pouco explorada pela maioria dos que escreveram sobre o assunto.
O fato foi o seguinte: quando a notícia de que William iria cursar História da Arte na universidade de Saint Andrews se espalhou pela Inglaterra, a diretoria de admissão da faculdade percebeu um aumento anormal de inscrições para o mesmo curso e para a universidade como um todo. Além disso, quase a totalidade destas inscrições adicionais eram de mulheres.
Uma curiosidade e tanto, até porque quem estava dentro deste grupo de novas alunas era justamente Catherine Middleton.
Afinal de contas, o que significa isso realmente? Um monte de meninas se inscrevendo na mesma universidade que o jovem William? Estamos falando em uma loteria pelo trono? Um bingo para o cargo de Cinderela? É assim que funciona?
Catherine Elizabeth Middleton, neste caso, ganhou a mega-sena acumulada do século! E toda essa movimentação define um pouco a personalidade de Catherine, assim como suas intenções.
Alguns acreditam que, por ser de família rica - seus pais são prósperos empresários, Kate não precisaria dar esse Golpe do Baú. Mas quem está falando em Baú? Algo muito maior está em jogo neste casamento. Quantas meninas ainda podem sonhar, em pleno Século XXI, com uma coroa de rainha?!

O peito e o príncipe
O santo do colunista não cruza muito com o de Catherine. Algo nela parece falso, calculado, fora de ordem. Um caso que talvez ilustre essa desavença astral foi a curiosa separação do casal depois que Kate viu a foto de William apalpando os seios de uma brasileira. Isso mesmo, nobilíssimo leitor, de uma brasileira!
Uma estranha história. Primeiro por que William, boboca como o pai, não é disso (se fosse seu irmão Harry...). Segundo que o verbo apalpar não inspirava lá grandes aventuras...
Clique na foto para ampliar
Com uma breve pesquisa na rede descobre-se que na verdade a tal apalpada foi apenas um erro de cálculo de um grandote William (tem 1,85m de altura) em uma pequenina brasileira chamada Ana Laíse Ferreira, que insistentemente pedia ao filho de Charles e Diana para tirar uma foto com ela já que ambos se encontravam na mesma boate londrina. Ao abraçá-la, seu braço foi além do que deveria, nada mais do que isso. 
A pernambucana Ana Laíse, na época com 18 anos (o fato aconteceu em 2007), negou que tenha tido os seios apalpados por William, “Ele nem colocou a mão no meu peito direito”, declarou a imprensa quase com tristeza... Mas o fato é que existe muito mais por trás desta notícia fabricada, em um mundo, esse das realezas, de tantos contos de fada.
No dia seguinte da festinha, Ana Laíse estava ao telefone com Jamie Pyatt, editor do tablóide sensacionalista The Sun, para tentar vender a foto. E de fato vendeu por uma soma nunca divulgada (fotos semelhantes já chegaram a R$450 mil). O The Sun pagou e publicou com uma manchete maliciosa, “Ele agarra um peito... Não contem para Kate”, seguido da ressalva: EXCLUSIVO!
O próprio Pyatt se entregou ao declarar em uma reportagem para o jornal O Globo que não achava nada demais: “Sinceramente, não acredito que ele tenha tido maldade, mas acho que vai ter que se explicar muito para a namorada dele”, disse o jornalista sem nenhum pudor.
E a namorada em questão já era Catherine Middleton. Kate caiu na cilada, rompendo, burocraticamente, o namoro.
Então o colunista que saber, como pode um amor sucumbir a tão descarada manipulação dos fatos? Ainda mais vindo de um veículo patético como o The Sun? Estranho esse país Inglaterra...


O anel azul
O anel original está avaliado em R$80 mil
Falando em fotos, desde o anúncio do noivado que o colunista está intrigado com o tal anel azul usado por Catherine na ocasião da apresentação dos noivos à imprensa.
A sensação era de que a pose de Catherine tinha sido milimetricamente pensada para dar destaque somente ao anel. A mão posicionada na altura certa, espalmada sobre o antebraço de William para permitir a melhor visibilidade.
O anel, feito de uma pedra de safira azul e diamantes, que pertenceu a Diana, virou uma mania mundial. Sim, era muito bonito, igual a muitos anéis refinados que estão por ai, mas por estar na mão da mais nova celebridade, simplesmente virou sonho de consumo planetário e passou a ser desavergonhadamente falsificado em fábricas chinesas para distribuição internacional. Da famosa 25 de Março, rua de pechinchas paulistana, à centenas de páginas na internet, o anel era oferecido com apelos do tipo: “Seja uma princesa com este anel! Idêntico ao da princesa! Frete grátis!”.
Quando passamos a dar mais atenção ao objeto do que ao sentimento, algo está gravemente fora de eixo, e não é o planeta.

Herdeiro do herdeiro do herdeiro?
Outro fato curioso foi a distância entre o anúncio do noivado e o casamento propriamente dito, cerca de cinco meses. Dessa vez coube a Star, uma revista de celebridades londrina, dar o suposto furo: Kate Middleton estaria grávida.
Ninguém levou a sério a informação. Não faria muito sentido já que se Catherine estivesse realmente grávida no anúncio do noivado, agora certamente já não estaria conseguindo esconder a barriga, principalmente em uma figura magra e com poucas curvas como ela.

E se estivesse grávida, qual seria o problema em pleno Século XXI? Em uma monarquia tão marcada por escândalos e desvios, uma noiva grávida não seria nada demais. Mas monarquia é isso, burocráticos, formais, e sem emoção.
(O cancelamento da Lua-de-mel fez quem não acreditou na manchete do Star pensar duas vezes...)

Um sujeito oculto
Não sei nada sobre Charles. Sempre o achei comedido demais, comportado demais, sempre na sombra, como que aguardando autorização da mãe para falar.
Diana sim, ao conseguir se libertar mostrou quem era. Engajada, ativa, com pensamento próprio. Curiosamente essa mesma Diana casou-se virgem aos 19 anos em plenos anos 80.
Há uma história curiosa neste outro casamento real A atual esposa de Charles chama-se Camila Parker Bowles. Camila foi uma das primeiras namoradinhas de Charles, além de fazer parte do círculo íntimo de amizades do Palácio de Buckingham. Dizem que foi Camila quem ajudou Charles a escolher Diana como noiva.
Charles e Camila se chamavam intimamente pelos nomes de Gladys e Fred. Dez dias antes do seu casamento, Diana foi filmada em um aeroporto chorando. Dizem que teria encontrado um bracelete embrulhado para presente com as iniciais G & F, o que a levou a perguntar à Charles se ainda estaria apaixonado por Camila.
O casamento de Charles e Diana sempre foi uma fachada. Talvez Camila, se achando pouco merecedora de transferir seus genes à linhagem real britânica, tenha ajudado Charles a escolher uma moça bonitinha, comportada e obediente para cumprir esse papel. Camila aguardaria sua hora.
Charles também recebeu orientações escritas de seu tio Louis Montbatten, que em uma carta teria dito: “Em um caso como o seu, o homem deve semear sua veia selvagem e ter o maior número possível de parceiras antes de serenar, mas para uma esposa ele deve escolher uma que seja adequada, atraente, e de caráter doce. A escolha deve ser antes que ela conheça alguém por quem se apaixone”.
Há que se entender, no final das contas, que um casamento real não é sobre amor e sim sobre gerar herdeiros, mesmo a monarquia sendo algo em franca extinção (allez!).
Diana resistiu 10 anos. O casamento se desfez em 1992 e seguiu-se uma briga para que ela continuasse com o título de Sua Alteza Real. Terminou apenas como Princesa de Gales. Dizem que William teria prometido restaurar o título quando se tornasse Rei. Kate ter usado o anel que pertenceu a Diana é um claro indicador de que isso irá acontecer em breve, visto que é muito provável que Charles, pouco afeito aos holofotes, entregue o trono a William.

O fim das contas
É curioso como nos apegamos aos fatos e aos números sem nem ao menos nos darmos o trabalho de questioná-los, confrontá-los ou ao menos fazer as contas.
Se alguém falar que o casamento será assistido por 2 bilhões de pessoas, simplesmente o número passa a valer sem qualquer estudo ou medição que lhe conceda legitimidade. Ninguém vai contar mesmo...
Mas o mais interessante neste episódio é perceber como temos deixado nosso interesse e atenção serem manipulados. Quem está decidindo por nós o que é importante, o que deve ser visto, o que deve ser falado, comentado, adorado e, acima de tudo, celebrado?
Em terra de cego, rei morto é rei posto.






KF

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quem odeia o colunista?

A primeira postagem do blog Um Texto por Semana foi em junho de 2009 e tratava de aspectos do acidente da Air France.

Desde então foram publicados outros 21 textos que falam de assuntos da atualidade, sempre com a marca da opinião, que é função de qualquer blog e obrigação de todo colunista.

Como qualquer outro provedor de serviços de publicação online (blogger, wordpress etc), o blogspot mantem relatórios diários de visitação e avisa o autor de comentários publicados em qualquer dos textos mantidos no arquivo de Um Texto por Semana, e disponíveis permanentemente desde a publicação original.

No finzinho de março, uma movimentação atípica começou a ocorrer com postagens de comentários a respeito de um texto que o colunista publicou em 09 de agosto de 2009, sobre a luta do então vice-presidente José Alencar contra o câncer.

Com o título de “José Alencar e o Deus que não habita em mim” (leia novamente o texto clicando aqui),  o texto falava muito mais da relação do colunista com essa idéia de Deus, ou melhor, do fato de o colunista ter escolhido o caminho da finitude definitiva, se me permitem o eufemismo. Além disso, o texto apresentava questionamentos sobre a existência de Deus, de um Deus, de qualquer Deus.

E questionar a existência de Deus provoca sempre um incômodo em certos segmentos da sociedade.

Logo ficou claro que o movimento atípico no blog Um Texto por Semana era por conta da morte do ex-vice presidente José Alencar. As estatísticas tinham saltado de 30 visualizações diárias para 450! E era óbvio que, ao digitar José Alencar no Google, alguns resultados estavam apontando para o blog.

Nem todos que chegaram ao texto se deram ao trabalho de lê-lo. Nem todos os que leram chegaram ao final. E nem todos que chegaram ao final publicaram algum comentário. Mas alguns sim.

Os primeiros que começaram a chegar eram realmente ofensivos. De primeiro, o colunista cometeu o erro de levar “na pessoal”. Mas logo em seguida, circulação sanguínea novamente regularizada, ficou decidido que toda e qualquer postagem seria aceita (visto que o blog dispõe de um filtro que permite ao colunista escolher o que é ou não publicado).

No primeiro momento o colunista se reservou o direito de bloquear as mensagens visto que, em sua maioria, eram de anônimos. E normalmente a postagem anônima é, antes de mais nada, uma postagem covarde.

Mas qual melhor estratégia se não abrir o templo aos filisteus?

Algumas postagens exaltavam o colunista a ler a Bíblia, como a primeira que chegou (postagens publicadas aqui conforme digitadas por seus autores):

"Existe um Deus sim, e seu filho Jesus que morreu na cruz por nos.O unico que intercede por nos.
Leia a Biblia e veja que os fins do tempo estao ai...Guerras, fome, brigas entre familias, etc...
existira uma uniao entre as naçoes e assim surgira um anticristo onde governara o mundo inteiro. as prorias igrejas satanicas dizem que se preparam para destruir a igreja evangelica porque sem ela assim o diabo podera reinar.

Se vc nao conhece a Deus e nao tem fe nele, leia a Biblia.

E logo depois veio essa:

Bem,

Para você negar algo, precisa conhecer. Então sugiro que: sem religião, sem pastores, padres, monges ou o que quer que seja, compre uma bíblia e leia-a toda sem pré-julgamentos. Sugiro começar pelo livro de João e depois quem sabe Gênesis. A escolha é sua. Mas insisto que para negar a existência de Deus você precisa primeiro conhecer o que se diz a respeito dele. Já estudei muitos filósofos, teorias sobre o 'surgimento" do mundo entre outras coisas. Vai por mim compre uma bíblia e leia, você irá se surpreender como eu me surpreendo todos os dias.
Ah, e antes que você diga sobre quem escreveu a bíblia, ou ela foi escrita por homens, etc. insito na leitura porque somente lendo para se ter idéia da magnitude de suas palavras.
E mais uma coisa: usando como base um texto da própria bíblia: o joio está crescendo no meio do trigo; se tentar arrancar o joio, muito do trigo virá junto. São as maçãs podres que existem na política, nas famílias, nas empresas, nas igrejas. Isto não as desqualifica.
Estarei orando por você até que compre sua bíblia. Abraços.

Outras partiam para a grosseria, tentando atingir pessoalmente o colunista, como uma das poucas que se identificou:

Luciene disse...
Vc que escreveu esse texto não passa de um idiota.
Saiba que Deus existe e, esse tempo que vc está passando na terra é simplesmente o tempo para vc o conhecer e ganhar uma vida que pra vc não existe, saiba seu estupido, se vc não mudar de ideia infelismente irá ter uma eternidade queimando no fogo do inferno.
Quer conhecer a verdade? Leia as escrituras, que la vc irá ter respostas para essas suas ideologia barata.
Deixa de ser jumento!Se vc ensistir nessa burrisse, sinto muito, porque la no fogo vc vai lembrar das minhas palavras.
Boa sorte sabidão!!

Ou ainda:

rapaz; vocês são pior do que um Cavlo,ou melhor igual porque o cavalo tambem é inracional, se não fosse O SENHOR DEUS vocês não estariam aí

Ou mais ainda:

que texto mais chulo e sem sentido,perdi meu tempo em ler.

E teve gente que não entendeu:

TENHO PENA DE QUEM ESCREVEU ESSE TEXTO,MAIS ACHO MUITO PIOR,COLOCAR ESSA FRASE PESADA ACIMA DA FOTO DO JOSÉ ALENCAR,UM HOMEM QUE LUTOU PELA VIDA E AGUENTOU FORTE PELA MISERICÓRDIA DO SENHOR E SEMPRE COM SUA FÉ FIRME AGRADECIDO SEMPRE A DEUS !
QUEM ABRE ESSA PÁGINA CHULA,LOGO QUE LÊ A FRASE TOMA ATÉ UM SUSTO,QUEM NÃO CONHECEU O ALENCAR VAI ATÉ ACHAR QUE ELE ERA ATEU.
POR ISSO,ACHO QUE SE QUER ESPRESSAR SUA OPINIÃO SOBRE SER ATEU,DEVERIA BOTAR SUA FOTO E NÃO DE UMA PESSOA TEMENTE A DEUS ! OK ?


Mas sim, tiveram os que tentaram deixar uma opinião construtiva, mais filosófica, que respeitassem a opinião diferente da que se tem.

Tivemos essa:

Sentimento de dever cumprido. Qual dever? Viver alicerçado nas próprias ideias é dar muita margem para erro, e um tanto quanto presunçoso, no meu ponto de vista. Deus nunca irá existir para você se você vive tentando provar o contrário. E assim, Jesus foi levantando numa cruz em vão, pois se não há Deus, o que ele foi fazer lá em cima? Para quem não crê, Jesus é apenas uma história, porém uma história da qual não se pode negar que aconteceu. E aí passa a ser muito mais que uma história. Amigo, se você repensar em toda a sua teoria de que Ele não existe, verá que ela termina sempre sem resposta, da qual vc não conseguirá provar nada. Eu creio, e se quando eu morrer vc tiver razão, vivi com dignidade e fiz o meu dever, como vc. Mas se vc morrer e ver que eu tinha razão, o que vai fazer? Ainda é tempo...

E mais essa:

Puxa... Imagino que tantas idéias à respeito da vida, do início e do fim requerem uma grande reflexão à respeito. E onde há reflexão não há certeza absoluta. Espero que haja tempo para que vc mude de opinião e conheça a Deus como pessoa com quem vc pode se relacionar e que vc conheça ainda o amor de Deus que é capaz de sanar e extinguir todas as dúvidas.
Luciene "0" para sua postura!!!!! Respeito é fundamental para qualquer pessoa, principalmente por aquelas que deveriam viver de acordo com a imagem e semelhança do criador!
Abraço!

E ainda essa:

José Alencar foi um homem íntegro e admirado por todos,respeitado político e empresario,lutou com muita perseverança para continuar a viver,ao contrario de muitos que tiram a propria vida,ele amava viver.E o que mais me admirava era, sem sombra de duvidas,a sua fé´em Deus,que sabedoria...!!!ele teve a plena consciencia que toda a sua riqueza de nada valeria se nao cresse em Deus,está escrito na bíblia:de que vale ter o mundo inteiro e perder sua alma?


Antes de mais nada o colunista precisa deixar claro que não tem nada contra o cidadão José Alencar. Aliás, muito pelo contrário, no texto anterior fala com uma certa admiração em relação a força e entusiasmo com que encarava sua doença. Mas precisa dizer também que não tem nada a favor do político do Partido Republicano Brasileiro, mesmo de Marcelo Crivella e outros tantos políticos saídos dos quadros da Igreja Universal do Reino de Deus (já que estamos falando Nele).  

O colunista apenas entende José Alencar como de estatura mediana. E achou estranho a elevação do político quase a um Getúlio Vargas, um Juscelino Kubistchek. Mas é feio falar dos mortos, então ficamos por aqui.

O episódio permite ainda uma última observação. Fica o triste registro de que, nas última semanas, o nome desse Deus tenha sido associado a gestos e atos tão absurdos.

Primeiro o deputado do Rio de Janeiro Jair Bolsonaro, eleito com surpreendentes 120 mil votos, no sexto mandato consecutivo, que, falando em Deus e na família, protagonizou (e vem protagonizando) uma das cenas mais lamentáveis de homofobia,  preconceito, racismo e falta de decoro.

E depois o episódio de Realengo, quando o insano Wellington Menezes de Oliveira matou 12 crianças. Em sua página no Orkut, Wellington fazia parte de apenas uma comunidade: Entendendo o Bíblia Sagrada.

Parece que não é só Wellington que não entendeu nada.





...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fukushima: sobre chaleiras e samurais


O terremoto e o tsunami que atingiram o Japão racharam não só as paredes e estradas, mas também a imagem que tínhamos do Japão. Além disso, expôs novamente a fragilidade e os riscos que corremos com a insistência na produção de energia elétrica através de usinas nucleares.

O que já foi falado não adianta falar mais. Mas vamos a algumas perguntas que simplesmente não foram feitas pelos jornalistas, seja por incompetência, seja pela sempre sombria defesa de interesses de grandes grupos econômicos, esses que mandam em quase tudo (vide o documentário Trabalho Interno – ganhador do Oscar 2011), seja pela busca do sensacional, do dramático, do extraordinário.

A primeira pergunta que não quer calar é como foi permitida a construção de uma usina nuclear na beira do mar (praticamente na praia) em um país com uma frequência vertiginosa de tsunamis?

Se a grande questão das usinas atômicas é o seu resfriamento, como pode um país tão desenvolvido tecnologicamente não ter sistemas alternativos de proteção? Um, dois, três sistemas alternativos?! E se o terceiro falhar, um quarto deve existir, tal é o perigo que um acidente como esse oferece à população. E não estamos falando apenas do povo japonês. Chernobyl nos ensinou que a nuvem radioativa não respeita passaportes.

As chaleiras nucleares
Quem tem mais de 40 anos hoje, lembra-se com clareza de todo o embate entre os ecologistas (naquele tempo chamados de eco-chatos - hoje já não se vê quem tenha coragem de usar o adjetivo...) e a ditadura militar brasileira que insistia em construir um complexo de usinas nucleares no meio de um santuário natural, a hoje chamada Costa Verde, na região da cidade de Angra dos Reis.

Não só isso, a Usina ficaria praticamente equidistante das maiores cidades brasileiras.  Uma evacuação do Rio de Janeiro e São Paulo seria tarefa impossível.

Usina de Angra dos Reis
Venceu a força dos generais em prol do desenvolvimento do país. Com um nebuloso contrato com empresas alemãs, iniciou-se a construção de Angra I, II e III.

Para um país continental, cheio de rios e banhado de sol o ano inteiro, sempre foi curiosa a opção pelas usinas atômicas. Parecia que os militares, aparentemente complexados com nossa condição de país subdesenvolvido, recalcados pois tínhamos um território de grande nação mas um país que era visto pelo mundo apenas como produtor de bananas, talvez entendessem que possuir uma usina nuclear era um cartão de embarque para o primeiro mundo.

Quem foi menino nesta época certamente participou de uma visita guiada à usina, levados pela escola para conhecer a imponente estrutura de concreto na beira do mar, tendo a seu costado a mais bela e exuberante floresta tropical.

O centro de visitantes era praticamente um parque de diversões, com suas maquetes animadas e luzinhas que piscavam mostrando como a energia estava sendo produzida ali.

E qual não foi a grande surpresa do colunista ao descobrir, 30 anos depois, que durante todo este tempo teve um entendimento equivocado sobre como realmente funciona uma usina atômica.

Ao contrário do que imaginava, ou seja, que uma usina deste tipo fosse algo de última geração no que diz respeito a geração de energia, algo futurístico, algo dos livros de ficção-científica, onde a energia era gerada a partir da fissão nuclear, ou seja, de explosão de um átomo que geraria muito mais energia do que um colosso como Itaipu.

Qual não foi a surpresa ao descobrir que uma usina nuclear nada mais é que uma chaleira cara e perigosa.

Não, não era a explosão de prótrons que estava gerando uma energia inesgotável. Descobrimos com Fukushima que uma usina nuclear nada mais faz do que esquentar água!!!

Transformada em vapor e forçada através de dutos, é o nosso velho e bom H2O que gera a pressão que gira as turbinas. Ou seja, uma usina nuclear e uma Maria-Fumaça funcionam da mesma forma.

Mas alguns poderiam afirmar que uma usina atômica, no final das contas, seria mais ecológica pois não consome carvão, não enviando, assim, CO2 para a atmosfera.

O tema traz de volta outro assunto que foi muito falado na década de 1980 e que, aparentemente, caiu no esquecimento: o lixo atômico, ou em termos técnicos, o Resíduo Radioativo.

É como se ele não existisse, ou como se fingíssemos que ele não existe e que não estamos criando um gigantesco problema para as gerações futuras. Apenas para se ter uma idéia do que estamos falando, um dos resíduos é o Urânio-235, que leva, aproximadamente, 7 bilhões de anos para ser tornar inócuo.

Sim prezado leitor, você não leu errado, lê-se 7 bilhões de anos!!

Explosão em Fukushima
Banzai! Ou melhor, Água!

Outra novidade que o Tsunami trouxe às praias foi uma nova forma de vermos o povo japonês.

Um manto de solidariedade embaralhado com compaixão sempre cobriu o único povo bombardeado com um artefato atômico (que nos fez esquecer as atrocidades que os generais japoneses cometeram através dos tempos). Somávamos a isso um deslumbramento que tínhamos com a capacidade inventiva e tecnológica  que faziam deles a nação mais avançada. Ainda tínhamos a inabalável imagem criada pelos Kamikazes, uma imagem de povo tenaz, de povo comprometido com sua nação, de povo servil.

Assim forjou-se a imagem e o sentimento que temos com o Japão, do Japão.

Todas estas características trouxeram aquele país, menos de 60 anos depois do lançamento de Fat Man e Little Boy sobre Nagasaki e Hiroshima, à terceira economia mundial. O Japão hoje é rico e desenvolvido.

Mas como entender que na hora mais importante do país nada disso foi capaz de ajudar as vítimas do tsunami? Como explicar tamanha morosidade no envio de suporte às vítimas? Como entender que um país tão pequeno, menor que o estado de Minas Gerais, possa ter deixado faltar água para os moradores do que sobrou de Sendai, apenas 365 quilômetros distante da capital do país?!

Como entender a postura leniente, passiva, sem emoção do primeiro-ministro Naoto Kan? E como encontrar conforto na fala monótona e decorada do imperador Akihito?

Aliás, como sequer aceitar que o Japão insista em manter uma monarquia? E mais, que insista no ridículo de sustentar um posto de imperador quando o Japão já deixou de sê-lo há muito tempo. Se é que um dia foi de fato um império! Um país que tem sua fundação creditada ao ano de 660 AC. Um país que tem 2671 anos de tradição sob uma mesma bandeira.

Nada disso, absolutamente nada disso, nenhum intrépido aviador, nenhum gênio da computação, nenhum robô de ultíssima geração foi capaz de levar um copo d’água para Sendai.

Por que se explicar

O genial  compositor brasileiro Renato Russo, que fez história na banda Legião Urbana, certa vez compôs uma canção chamada Angra dos Reis. O terceiro estrofe era certeiro, destruindo em poucas linhas tudo o que havia sido dito sobre a segurança de Angra I.
Protestos contra a usina de Three Mile Island, EUA.

Vamos brincar perto da usina
Deixa pra lá
A Angra é dos Reis
Por que se explicar
Se não existe perigo...

Assim como nas guerras, quando a primeira vítima a cair é a verdade, também em acidentes nucleares dá-se o mesmo. Seja em Three Mile Island, Chernobyl ou Fukushima, nunca saberemos o que realmente ocorreu.

Mas há uma novidade que vem fazendo a diferença, tanto nas manifestações no mundo árabe, ou iraniano, como nas tragédias naturais (ou não). Um aparelho justamente aperfeiçoado pelo japoneses: as câmeras de vídeo.

Não se tem notícia de um episódio catastrófico tão bem documentado em imagens. Uma das ondas que atingiram a  costa  japonesa chegou a ser assistida ao vivo pelo mundo.

E foi justamente uma dessas câmeras que captou a primeira explosão em Fukushima. Uma senhora explosão! Uma explosão que lançou um cogumelo de fumaça sobre o complexo de usinas atômicas de Fukushima e que deve ter arrepiado aqueles mais velhos que viram com os próprios olhos o clarão atômico que encerrou a II Guerra Mundial.

Mas qual não foi a cara-de-pau dos governantes daquele país ao negarem sistematicamente que a situação não era emergencial e que tudo ficaria sob controle. Como acreditar que estava tudo bem diante de uma explosão daquela magnitude? E ainda por cima em uma usina nuclear?

Pobre povo japonês que ao longo dos séculos de sua trajetória aprendeu a confiar em seus líderes justamente porque demonstravam bravura, caráter e, acima de tudo, honra.

O tempo dos samurais já vai longe enterrado.

Existem hoje 441 reatores nucleares em operação em 31 países.




Addendum: Quem sabe com esse susto, os japoneses, com suas mentes criativas e inovadoras, comecem a investir na geração de energia limpa. Se já foi dito a você que a energia solar não é viável, quem diz provavelmente está sendo pago pela indústria do petróleo ou é um acionista direto desta indústria ultrapassada que se nega a morrer. O Sol irradia anualmente o equivalente a 10.000 vezes a energia consumida pela população mundial neste mesmo período. A Terra recebe mais de 1.500 quatrilhões de quilowatts-hora de potência por ano. É por essas e outras que o Pré-Sal não me seduz.