sábado, 24 de novembro de 2012

O Rei dos Royalties

Governador: "Não faço mais Copa nem Olimpíadas!"

O Governador Sérgio Cabral, seguido pelo prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes - e outros prefeitos das poucas cidades beneficiadas pelos royalties do petróleo - pretendem parar a Cidade do Rio nesta segunda-feira.

Mas antes de apoiar o movimento, valem algumas ponderações.

Inicialmente precisamos corrigir, ou melhor, adequar alguns conceitos que circulam por aí indiscriminadamente, e que são os pilares dos que defendem a manutenção dos royalties como são.

Imagino que duas considerações precisam ser feitas: uma semântica e outra geográfica.

A primeira é a que fala em estados produtores de petróleo. Uma grande falácia já que sabemos não ser possível produzir petróleo. A tarefa é da mãe-natureza, coisa de milhões de anos decompondo matéria orgânica. Simples assim.

Falar em estados produtores de petróleo é indução ao erro. O verbo correto seria extrair.

O Rio de Janeiro é sim um estado produtor, mas de outros produtos como o aço, forjado pela Companhia Siderúrgica Nacional no município de Volta Redonda, ou o alface, produzido pelos agricultores das serras fluminenses.

Mas mesmo isso não satisfaz, já que quem extrai petróleo no Brasil, em sua maior parte, é a Petrobras e não o estado do Rio. E a Petrobras, apesar de ter suas principais sedes no Rio de Janeiro, não é uma empresa estadual. Qualquer um que visite sua sede principal, o curioso prédio com jardins suspensos na avenida Chile, não verá apenas cariocas ou fluminenses. Encontrará sim gente de todo o Brasil.

Outro verbo que podemos usar é Refinar. Isso sim uma atividade realizada em solo fluminense, mais precisamente no município de Duque de Caxias, onde fica a principal refinaria da Petrobras.

Conhecida apenas como REDUC, a refinaria é um gigantesco complexo industrial ocupando uma área de 13 kmà beira da Baía da Guanabara.

E sobre isso o Estado do Rio tira grande vantagem, com uma pesada tributação e a geração de milhares de empregos para a sua população.

Onde?
Longe pra xuxu!
A segunda consideração é geográfica. Todos os pontos de extração dos estados que atualmente se sentem prejudicados com a revisão da distribuição de royalties (ES, RJ e SP) estão localizados em alto mar. Todas as bacias petrolíferas da região (Bacia de Campos, Bacia de Santos e Bacia do Espírito Santo) ficam, em média, a 180 quilômetros da costa.

Dizer que esse produto, extraído em alto mar, por uma empresa nacional, quase nos limites da plataforma continental brasileira, pertence a este ou aquele estado, talvez seja demais para o entendimento do colunista.

Rio de dinheiro
Outra curiosidade que toda esta grita trouxe à tona foi descobrir o imenso canal de recursos que a Petrobras despeja nestes estados, além de alguns sortudos municípios, como são os casos de Campos dos Goytacazes, Macaé, Rio das Ostras, além do misterioso Quissamã, todos no estado do Rio.

É tanto dinheiro que o governador do Rio de Janeiro, falastrão que é, anunciou que o estado do Rio irá a falência caso a nova distribuição dos royalties seja efetivada. E foi além, chantageou a nação com a ameaça de não realização da Copa e das Olimpíadas. Quanta fanfarronice. Quanta irresponsabilidade.

E quão ultrapassado é essa coisa de royalties. Vejamos sua origem: segundo os dicionários, “Royalty é uma palavra inglesa derivada da palavra "royal", que significa aquilo que pertence ou é relativo ao rei, monarca ou nobre”. De fato a prática de pagamento de royalties não é exclusiva de nosso país, sequer é exclusiva do setor de petróleo, incidindo também na mineração. Um dos argumentos é que seria uma compensação. Mas compensação de que? Possíveis danos ambientais?

Para isso tem-se a legislação ambiental, que prevê pesadas multas e ainda a obrigatoriedade de compensação às partes prejudicadas e a regeneração da área atingida. Foi assim no vazamento de óleo na Baía da Guanabara em 2000, quando a Petrobras foi multada em 50 milhões de reais.

Neste caso, os royalties continuaram com o estado e municípios. Ou seja, é uma lógica que parece não fazer sentido. Paga-se como compensação de um possível dano, mas quando o dano acontece, quem paga a multa e limpa a sujeira é a própria Petrobras. Ao colunista, não parece algo muito claro.

O Petróleo é nosso...
O melhor, quem sabe, fosse que os lucros obtidos com a comercialização do petróleo retornassem para toda nação na forma de investimentos em setores fundamentais da sociedade brasileira. Além, é claro, de investimentos na própria Petrobras e na pesquisa científica, principalmente no desenvolvimento de outras fontes de energia, como  a solar e a eólica. Afinal de contas, a Petrobras gosta de dizer que é uma empresa de energia, então que venham os cata-ventos.

Soa simplista. E é.

Imenso painel colocado na Central do Brasil
No fim das contas, vale conferir como as cidades beneficiadas estão se saindo. Campos dos Goytacazes, reduto eleitoral de Anthony Garotinho, receberá, só em 2012, quase R$600 milhões. No entanto, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano, Campos está em 1812o lugar entre os 5507 municípios brasileiros. Rio das Ostras em 1188o, e a tal Quissamã em 2389o.

Sérgio Cabral não está poupando esforços. O volume de publicidade espalhado pela cidade é de envergonhar qualquer tribunal de contas. A passeata oficial do governo do estado vai estar lotada de caravanas patrocinadas com dinheiro público. De certo a Cinelândia já viu dias mais gloriosos.





KF

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As tarefas de cada um


Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Não há quem não conheça as três tarefas básicas para, o que dizem, ser uma vida completa.

No caso do colunista, árvores já foram algumas, o livro foi publicado faz nove anos, e a filha nasceu há cerca de um.

Agora, depois de cumpridas todas, uma coisa me parece certa: escrever um livro é com certeza a mais trabalhosa.

Isso sem falar que escrever não significa que necessariamente verás a obra publicada. Em um mercado de poucos leitores como o brasileiro, ter um livro na estante de uma livraria nem sempre depende-se apenas do talento, muitas vezes é preciso forçar a porta do mercado.

Mas antes de pensar na fila de autógrafos, é preciso escrever, escrever, escrever, reescrever, cortar palavras, colocar outras no lugar, e tornar a escrever.

Viajar para escrever

A história de como escrevi o livro “Avenida das Américas – uma viagem de bicicleta pela América Latina” leva quase uma década entre idas e vindas a uma máquina Olivetti, nesta labuta pelo parágrafo perfeito. 

Mas no caso de um relato de viagem, havia ainda um outro elemento desafiador: como reviver uma história tão intensa - e colocá-la no papel de forma fiel -  no meio dos afazeres do dia-a-dia?

Primeira página do original
Depois de inúmeras tentativas em casa, veio a decisão de que para escrever o livro eu teria que me afastar do cotidiano e mergulhar novamente na viagem.

Ao longo dos 10 anos de produção do texto, foram três viagens para locais diferentes. Itapecerica da Serra, na grande São Paulo, onde um tio-avô morava em uma chácara; Sana, distrito de Casemiro de Abreu, no norte fluminense, onde dividia com uns amigos uma casinha no meio do mato; e finalmente para a cidade serrana de Petrópolis, onde aluguei uma casa de temporada para, enfim, terminar o livro.

Com o Avenida das Américas pronto, passei a bater nas portas das editoras, principalmente aquelas que já tinham publicações dentro do mesmo segmento.

Todas fechadas.

Os anos passavam e nada de encontrar uma brecha. Com a certeza da qualidade do texto e, acima de tudo, da história, tomei a decisão de publicá-lo por conta própria. Ou melhor, através de uma parceria com uma pequena editora carioca. Eu pagaria pelos custos de diagramação, arte e impressão, e eles cuidariam da distribuição. Nisso foi-se o meu Palio 1998.

O livro foi lançado numa bela manhã de dezembro de 2003, no casarão do Parque Lage, no Rio de Janeiro.

O livro é do leitor
Desde a sua publicação, o livro proporcionou ao colunista uma série de alegrias, que naturalmente não vieram do retorno financeiro, mas sim do inesperado resultado que vinha da experiência de cada leitor.

O livro conta não só a história da viagem, mas também um pouco da história da América Latina,  sempre relacionada com o que eu havia vivido durante os seis meses cruzando o continente.

Com isso, o livro acabou gerando o interesse de escolas. A primeira a adotar foi a escola George March, da cidade de Teresópolis, no estado do Rio. Incluído dentro do que os professores chamam de leitura transversal, o livro foi um grande sucesso, gerando uma série de trabalhos dentro e fora de sala.

Vem daí uma das muitas histórias da relação dos leitores com o livro. Essa foi assim: a diretora recebeu a ligação de um pai querendo saber que livro era esse que a escola havia indicado. Apreensiva, ela logo quis saber o motivo. O pai relatou que a filha tinha deixado de ir a uma festinha com as amigas para ficar lendo o livro, o que ele achou realmente incrível. Alívio geral para a diretora, e satisfação enorme para o autor.

Depois disso veio o Instituto Metodista Bennett, tradicional instituição de ensino carioca. A escola não tinha adotado o livro, mas algumas professoras decidiram organizar uma palestra.

O auditório de 200 lugares lotado de pré-adolescentes frenéticos parecia prever o pior. Procurando evitar um possível vexame, a organizadora do evento me chamou em um canto e já antecipou as desculpas por qualquer algazarra fora de controle. Recomendou que eu falasse em torno de 20 minutos e abrisse logo para perguntas. Em seguida, todos seriam liberados para o recreio.

O que aconteceu foi que o autor falou durante duas horas sem ser interrompido. No final as perguntas não paravam, levando as professoras a limitar a participação e organizar as perguntas em blocos.

Sem perceber, todos perderam o recreio.

Durante muito tempo a caixa postal do colunista amanheceu com mensagens de carinho, nas mais diversas formas. Como uma que disse que nunca tinha lido um livro tão rápido, outro que comprou o livro, saiu lendo, continuou no carro, no restaurante, e voltou para casa lendo. Ou ainda uma que escreveu assim: “Oi Kadeh, finalmente acabei de percorrer o Avenida das Américas junto com você...Ufa! Infelizmente não perdi uma só caloria...”.   Ou ainda um emocionante que recebi de um grande amigo dizendo assim: “Quando acabei de ler eram umas quatro da manhã e não conseguia ficar quieto. Era preciso o movimento. Peguei minha bicicleta e fui dar um rolê. Só para arejar a cabeça. Pedalando fiquei com os olhos cheios d’água novamente. Podia até ser um cisco no olho, mas era felicidade mesmo.”.



20 anos de estrada
Recentemente o colunista percebeu que uma data fechada se aproximava. No dia 19 de setembro de 2012 completariam 20 anos da viagem. Pensei se era preciso uma comemoração ou um grande evento.

Os dias passavam e nenhuma idéia aparecia para marcar a data.

No dia 15 de setembro chegou uma mensagem pela rede social. Uma amiga pedia a autorização para passar o meu correio eletrônico para uma pessoa que conhecera recentemente e que, segundo ela, havia mudado a vida por causa do meu livro.

Exageros a parte, naturalmente sinalizei positivamente.

Dias depois recebo a seguinte missiva:

Boa noite Kadeh,

No ano passado fiz uma viagem de bike pela América do Sul. E minha primeira idéia de viajar veio do teu livro, Avenida das Américas.

Quando tinha uns 13-14 anos vi seu livro numa livraria, procurando histórias boas na seção de viagens.

Achei aquela história de ter viajado de bike incrível, nunca tinha ouvido falar disso!

Aí comprei o livro e devorei em uns poucos dias, fiquei vidrado naquela idéia, já fiquei pensando que era assim que eu tinha que viajar...

Quando tinha uns 15-16 anos comprei um quadro de cromo já pra montar a bike pra cair na estrada, mas não tinha dinheiro pra mais nada...

O quadro ficou uns 4 anos encostado atrás da escrivaninha até eu começar a trabalhar e juntar uma grana pro resto das peças.

Enfim, essa história é longa, mas começou com seu livro, e sempre fiquei curioso pra te conhecer e agradecer pelo livro.

Brigadão,

Leonardo de Carvalho Soares

Leonardo, sem saber, deu o presente que a data merecia.

Epílogo
A autoria ou a origem do provérbio que abre este artigo perdeu-se no tempo. Soa como chinês ou árabe, culturas a quem devemos muito do que somos hoje. Interpretações mil podem ser feitas, mas parece mais que fala sobre o legado que cada um deixa ao passar por esta vida.

O livro Avenida das Américas teve uma tiragem de 2 mil exemplares. É hoje considerado esgotado. O autor mantém uma reserva técnica de 15 exemplares. E mais nada.

Há anos venho tentando republicá-lo, ciente de que a trajetória deste livro ainda não se encerrou.

Mensagens como a de Leonardo ajudam a manter a confiança.


Carpe diem



KF


A história de Leonardo pode ser conferida no blog que ele montou, o caminhosdebicicleta.blogspot.com.

O do colunista em:  cicloamericas.wordpress.com.



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

PODEROSA AVENIDA BRASIL



 Avenida Brasil vai parar o Brasil hoje a noite.

Desde Vale Tudo, novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, que parou a nação com seu mistério sobre a morte de Odete Roitman, que não via nada igual na televisão.

O último capítulo de Vale Tudo chegou à estonteantes 94 pontos de audiência.

Avenida Brasil começou com o público cativo da Novela das Oito (que a Globo tenta há tempos, em vão, que as pessoas se acostumem a chamar de Novela das Nove...), além dos que apreciam o trabalho do roteirista João Emanuel Carneiro. Mas de repente algo mudou e todos começaram a prestar atenção. Os motivos são vários.

Um novo autor
Emanuel escreveu seu nome no rol da fama dos grandes novelistas brasileiros não só por sua pouca idade (hoje tem apenas 42 anos), mas pelo estilo. O autor gosta de brincar com a cabeça dos telespectadores, levando-os em diferentes direções, manipulando, no bom sentido, a opinião pública. Foi assim com A Favorita, e confirmou-se como estilo em Avenida Brasil.

Em uma novela de João Emanuel Carneiro, um não deve formar sua opinião sobre as coisas - sobre as pessoas - tão cedo, pois no final você pode se deparar com seus próprios preconceitos e padrões de moral que talvez não sejam de conhecimento de você mesmo. Essa é a grande sacação.

O colunista faz parte de um grandessíssimo contingente de espectadores que voltou a assistir novela, ou, talvez melhor colocado, que voltou para assistir a novela Avenida Brasil.

A primeira característica de Avenida Brasil que chamou a atenção do colunista não foi algo que geralmente seja um elemento primordial em telenovelas: a fotografia.

Com um ritmo de produção industrial, os diretores não têm o tempo de trabalhar com mais cuidado a fotografia das cenas em uma novela. Entendendo fotografia não só a paisagem bonita por trás dos atores, mas sim o enquadramento, o posicionamento da câmera e os elementos dos planos, ou seja, o que se vê em primeiro plano (perto da lente), no plano médio e no plano de fundo. Elementos fundamentais para a composição de uma cena feita para ser captada através de uma lente.

E falando em lentes, este foi outro diferencial de Avenida Brasil. Câmeras de altíssima definição já são um padrão na Globo há cerca de 5 anos. Novelas com cara de cinema são hoje uma realidade. Primeiro as novas câmeras foram testadas com mais liberdade nas novelas da 18 horas, onde a menor pressão por audiência sempre permite ousadias maiores. Mas foi a decisão dos diretores por uma mudança técnica, principalmente da jovem diretora Amora Mautner, que fez de Avenida Brasil também um deleite para os olhos.

Filmando com as poderosas (e caríssimas) câmeras Ikegamis, o grande jogada dos diretores foi optar pelas lentes fixas, que geram uma outra textura para a imagem e, acima de tudo, uma profundidade de campo diferenciada.

Para que os leitores pouco acostumados com esta linguagem técnica, vale uma breve explicação. Existem basicamente dois tipos de lente: a zoom e a fixa.

A lente zoom é como se fosse uma série de lentes em uma só. Um lente é definida por sua distância focal. Então temos lentes 50mm, 28mm, 150, 300, 75, e por aí vai.

Mas para conseguir colocar tantas variações em uma mesma lente, algo se perde. Normalmente perde-se em abertura de diafragma (o quanto de luz uma lente é capaz de capturar) e profundidade de foco.

Resumindo, lentes Zoom acabam pasteurizando a imagem e deixando tudo igual.

Já uma lente fixa, além de ser uma lente mais clara e que deixa a imagem mais cristalina, tem uma profundidade de campo mais curta, ou seja, consegue-se o efeito de desfoque do fundo, que destaca ainda mais o que está em foco.

Os diretores de Avenida Brasil decidiram pelas lentes fixas, algo que não havia sido feito antes por um motivo simples: praticidade.

Com a lente zoom você pode mudar o enquadramento com um simples girar da lente. Para fazer o mesmo com uma lente fixa é preciso trocar de lente ou, mais complicado ainda, transportar todo o conjunto de câmera, tripé e acessórios para um ponto mais próximo ou mais distante do objeto filmado. Para uma produção de uma novela, com o ritmo frenético de gravações, isso seria algo impensável.

Até Avenida Brasil...

A opção pelas lentes fixas trouxe uma imagem cinematográfica para o gênero telenovela.

E assim que o colunista foi, como se costuma dizer, fisgado. Ao assistir um trecho da novela, já em sua metade, o colunista pensou: “há algo de diferente nesta novela!”.

A história em primeiro lugar
E depois veio a história. Um texto muito bem escrito, leve, fluído e, acima de tudo, novamente encenado por atores (e não por modelos).

Murilo Benício, Adriana Esteves, Alexandre Borges e Débora falabella são figurinhas fáceis, cartas marcadas. Mas como desconfiar de uma novela que tem em seu elenco Vera Holtz e Marcos Caruso?

Caruso apesar de veteraníssimo, atuando em telenovelas desde 1978, sempre foi mal aproveitado em papéis menores. Avenida Brasil libertou este talentoso profissional. Leleco ainda será lembrado por muito tempo.

Os nomes dos personagens é outro trunfo de Avenida Brasil. João Emanuel e sua equipe devem ter dado boas risadas enquanto escolhiam os nomes de cada um.

Avenida Brasil é um prato cheio: Leleco, Muricy, Ivana, Olenka, Nilo, Lucinda, Monalisa, Cadinho, Alexia, Silas, Maxuel, Diógenes, Dolores/Soninha Catatau, Tessália, Betânia, Adauto, Beverly, Ágata, Begônia, Genésio, e sem esquecer de Zezé e Jimmy. E é claro: Tufão e Suelen. Mas como não colocar nas alturas o melhor de todos: Darkson!!!

A atriz veterada e a atriz novata (e o ator durão)
Claro que o trono está reservado para ela, Carmem Lúcia. Nome composto que toda grande vilã merece ter.

Tudo já foi falado sobre Adriana Esteves. Mas não cabe qualquer contestação quando o próprio autor se refere a ela como a alma de toda a história. João Emmanuel disse recentemente que, apesar de Adriana não ter sido a primeira escolha para o papel, a novela não teria sido o que foi sem a interpretação dada pela atriz à vilã Carminha.

Falando em atrizes, João Emmanuel parece ter dado outra demonstração de seu talento e sofisticação, além do domínio da trama, em uma jogada pouco comentada entre durante estes últimos dias: a exclusão da jovem atriz Ana Karolina, que interpreta Ágata, das cenas mais fortes no fim da novela.

Com momentos onde os temas assassinato, traição, vingança, e todo o baú de tópicos pesadíssimos vindo à tona, Emanuel achou melhor deixar Ágata (e consequentemente a jovem atriz) fora desta pressão. Arrumou uma viagem de férias para Miami, deixando a pancadaria apenas para maiores de 18 anos. Ponto para o autor! Sutil e elegante.

A dramaturgia de Avenida Brasil é tão poderosa que mesmo um ator de atuação mais enferrujada como é Juca de Oliveira, com um estilo duro demais para a televisão, tem todo o seu potencial de interpretação libertado pelos diretores. Não se enganem, Avenida Brasil é o que é pois tem não só um autor fora de série, mas uma equipe de diretores ousados e comprometidos com uma nova teledramaturgia.

Congelando
E para acabar de completar, a trilha sonora. Mas antes vale um comentário. Durante os últimos anos houve um entendimento do setor comercial da TV Globo de que uma novela era essencialmente um produto comercial, focado em gerar lucro para a empresa. O lado artístico, teatral, lúdico, acabou sendo deixado de lado.

A Novela das Oito é o carro chefe da emissora. Simplesmente não pode dar errado, o fracasso significa colocar em risco toda a estrutura da emissora.

Até aí compreensível.

Sem margem de inovação e campo para experimentar, as novelas desta faixa de horário foram ficando todas iguais. Rostos bonitos foram priorizados. Avenida Brasil mudou tudo isso (sem abrir mão da beleza, que é fundamental...).

Mas voltando ao assunto musical, as novelas tinham se transformado em uma plataforma de venda não só dos intervalos comerciais, mas de toda uma gama de produtos, entre eles, a trilha sonora. Com toda novela vem junto um pacote fonográfico das trilhas nacional e internacional.

Mas chamou a atenção em Avenida Brasil a trilha sonora orquestral, cinematográfica, ampliando ainda mais o clima de tensão. Hoje não há quem não saiba quando a novela vai acabar. Uma assinatura sonora que vai acelerando até o congelamento em preto e branco da expressão facial do ator ou atriz que arma o gancho para o próximo capítulo, no que podemos chamar de uma renovação sofisticada do hoje descartado cenas dos próximos capítulos.

João Emanuel prova que é possível a convivência de talento artístico e retorno financeiro. A revista Forbes recentemente classificou a novela Avenida Brasil como a mais bem sucedida de toda a história da TV Globo, tendo faturado 1 bilhão de reais em anúncios (uma novela custa em média 45 milhões de reais).

Deixar para o último capítulo a revelação do assassino não é nenhuma inovação. Salomão Ayala, da novela o Astro(1977/78), de Janete Claire, ou a já citada Odete Rotiman estão aí para registro, mas Avenida Brasil trouxe algo de novo além dos milhares de espectadores que tinham desistido do gênero.

Glória Perez tem um baita desafio pela frente com seu Salve Jorge!





KF



ps – Chute do colunista: Santiago atira e mata Carminha. Antes de morrer, nos braços de sua rival Nina, a perdoa e pede perdão. Redenção final. A conferir...